quinta-feira, 15 de setembro de 2011

05 - DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTT (árbitro de xadrez).

Referência:
http://pt.scribd.com/doc/2087573/Dicionario-de-Mitologia-Grega-e-Romana

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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
Georges Hacquard
DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
Digitalização:
Ângelo Miguel Abrantes

TRADUÇÃO
MARIA HELENA TRINDADE LOPES
Profiessora auxiliar de Civilizações Pré-Clássicas, História Comparada das
Religiões e Egípcio Hieroglífico da Universidade Nova de Lisboa

TITULO ORIGINAL GUIDE MYTHOLOGIQUE DE LA GRÈCiE ET DE ROME
(@) 1990, Hachette
DIRECÇÃO GRÁFICA DA COLECÇÃO
JOÃO MACHADO
Este livro foi composto em caracteres Helvética por
Maria da Graça Manta, Lisboa
e impresso e acabado na
Divisão Gráfica das Edições ASA Rua D. Afonso Henriques, 742 - 4435 Rio Tinto
1 .@ edição: Novembro de 1996

PREFÁCIO À EDIÇÃO PORTUGUESA
O "Dicionário de Mitologia Grega e Romana", da autoria de Georges Hacquard,
constitui um marco importante neste tipo de produção literária destinada ao
grande público.
O maior dos méritos do autor é, sem dúvida, ter conseguido apresentar sínteses
perfeitas de cada um dos heróis, lugares ou deuses da mitologia, sem recorrer
àquilo que é mais vulgar neste tipo de obras: a simplificação superficial que
conduz à confusão e à mistura abusiva de tradições e de autores.
G. Hacquard demonstra, efectivamente, ter um conhecimento profundo das
diferentes tradições relativas a cada um dos heróis ou deuses da mitologia,
alertando-nos constantemente para o autor ou fonte literária referida. Assim, as
narrativas de Homero não são confundidas com as de Hesíodo ou dos trágicos
gregos ou ainda com as de autores posteriores como Calímaco ou Pausânias.
Por outro lado, o seu conhecimento das línguas (grega e latina) permite-lhe
explicitar, muitas vezes, a partir da raiz do nome dos heróis ou deuses, a
personalidade destes. Uma personalidade que é veiculada pelo nome.
Importa, também, salientar a metodologia utilizada para a apresentação dos
grandes heróis da Antiguidade: Aquiles, Hércules, Jasão e Teseu, por exemplo,
nascem e morrem perante o nosso olhar. Também aqui o autor não optou pela
simplificação superficial que leva, habitualmente, a apresentar uma síntese das
características do herói e, eventualmente, a sua intervenção num ou noutro
acontecimento relevante. Héracies, por exemplo, desabrocha, cresce, avança, ama
e morre e nós podemos sentir todo o seu percurso vivencial e individual,
integrado numa determinada conjuntura. Podemos sentir a História. A História
daquele tempo e a história do herói individual.
Georges Hacquard é, sem dúvida, um "poeta" apaixonado pela mitologia que tão bem
conhece e apresenta. Essa paixão, essa preferência individual, é notada e
sentida em algumas rubricas. O caso de Apolo é bem paradigmático desta situação.
A escrita do autor complexifica-se, torna-se menos fluente, mais poética e, por
isso, mais difícil de seguir e de acompanhar. Podemos, talvez, afirmar que a
sensibilidade do autor e a sensibilidade da personagem contribuíram, em
uníssono, para a criação de algumas das mais belas páginas desta obra.
O "Dicionário de Mitologia Grega e Romana" é, sem dúvida, uma obra fundamental
para todos aqueles que pretendem conhecer melhor a mitologia greco-romana e que
pretendem fazê-lo, com prazer, com rigor e com seriedade.
MARIA HELENA TRINDADE LopES
Ácamas

-,,
, Ácamas era filho de Teseu, rei de Atenas, e de Fedra, sua mulher (ela própria,
filha do rei de Creta, Minos).
Quando Teseu partiu em campanha com o seu amigo Pirítoo (em primeiro lugar para
raptar Helena, ainda uma menina, que ele entregou à sua própria mãe Etra, e
depois Perséfone, que ele tratou de arrancar aos Infernos), confiou o trono de
Atenas aos seus filhos Ácamas e Demofonte. Mas Castor e Pólux, irmãos de Helena,
Página 1

DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
intervieram e, enquanto Teseu esteve prisioneiro nos Infernos, eles libertaram a
sua irmã, capturaram Etra, expulsaram os filhos de Teseu e substituíram-nos no
trono por Menesteu, descendente de Erecteu. Ácamas e Demofonte retiraram-se,
então, para a ilha de Ciros. Foi lá que seu pai, depois de libertado, os
reencontrou e morreu.
Quando Helena, entretanto casada com Menelau, foi de novo raptada, mas desta vez
por Páris, filho de Príamo, rei de Tróia, foi a Ácamas que Menelau apelou, no
sentido de negociar com Tróia o regresso de Helena, para junto de seu marido.
A presença de Ácamas na corte de Tróia não passou despercebida aos olhos de uma
das jovens princesas, "a mais bela das filhas de Príamo e de Hécuba", Laódice.
Esta, profundamente apaixonada por Ácamas, confidencia os seus ardores à mulher
do rei de Dárdano, em Tróade. A Rainha irá, então, sugerir ao seu marido
convidar Acamas e Laódice para um banquete. A jovem, apresentada como uma
cortesã de Príamo, é sentada ao lado do jovem grego e, ainda a noite não tinha
terminado, já os dois se tinham unido, amorosamente. Desta união irá nascer
Múnito, que a mãe de Teseu, Etra - ela tinha acompanhado Helena à corte de
Príamo - terá por missão educar.
A embaixada de Ácamas não teve outro sucesso senão este. E a guerra
11
Adónis
de Tróia começou então. Ácamas participou nela, assim como o seu irmão
Demofonte, na esperança de libertar a sua avó. Ácamas passa, mesmo, por ter sido
um dos numerosos guerreiros que se esconderam no interior do cavalo de madeira.
Obtida a vitória, resgatadas Helena e Etra - esta última graças aos seus netos
que a reconheceram no meio dos cativos dos Gregos - Ácamas regressa à Ática. À
morte de Menesteu, irá recuperar o trono de Atenas, que ocupará com grande
sabedoria. (As aventuras de Ácamas são, por vezes, atribuídas ao seu irmão,
Demofonte.)
Adónis

1,
A lenda, de origem síria, conta que a rainha da Síria tinha uma filha, Mirra (ou
Esmirna), que ela admirava tanto, a ponto de a proclamar superior em beleza à
própria deusa da beleza. Afrodite não gostou e decide vingar-se, inspirando a
Mirra um amor criminoso pelo seu próprio pai. Assim, a jovem, com a cumplicidade
da sua ama, consegue introduzir-se, de noite, incógnita, no leito do rei e
unir-se com ele.
Ter-se-á este apercebido da burla, exprimindo então a intenção de condenar a sua
filha à morte, ou terá sido Mirra, que fugiu, envergonhada, após a consumação do
incesto? Qualquer que seja a resposta, a verdade é que os deuses tiveram piedade
da jovem e decidiram transformá-la numa árvore: a árvore da mirra, cujas gotas
não são senão as lágrimas da própria Mirra.
Nove meses mais tarde, a crosta da árvore estalou, e dela saiu uma criança de
extraordinária beleza: quem a voltasse a nomear não deveria dar-lhe outro nome
senão o de "belo Adónis". (De uma palavra semítica que significa "senhor".)
As ninfas adoptaram-no e educaram-no no meio da natureza. Um dia, Afrodite viu-o
e - vingança justa de Mirra - experimentou por ele toda a violência do desejo,
imediatamente partilhado. O casal tornou-se, a partir de então, inseparável.
Ora Ares, que há muito tempo se encontrava apaixonado por Afrodite, irritou-se
com a paixão que uni mortal despertara na deusa do amor. E a fim
12

Adónis
de eliminar este rival demasiado ditoso, resolveu insuflar-lhe a sede da
aventura, a procura do perigo.
Foi assim que um dia Adónis, de arco na mão, partiu sozinho para a caça, apesar
das súplicas da sua amante. A certa altura da caçada surge-lhe um javali, que
investe contra ele, derrubando-o e provocando-lhe uma ferida mortal. Alertada
por Zéfiro, a deusa precipita-se ao encontro do seu amado, ferindo os pés nas
espinhas das rosas brancas que se tingem imediatamente de púrpura. Mas chegou
demasiado tarde, não assistindo ao último suspiro do seu jovem amado. Perdida de
dor, e para que a lembrança de Adónis e da sua beleza se perpetuassem sobre toda
a terra, Afrodite transformou as gotas de sangue que se derramavam da sua ferida
mortal, em anémonas.
Após este incidente, a deusa criou em homenagem a Adónis uma festa fúnebre, que
as mulheres sírias deviam celebrar, em cada Primavera. O rio da Fenícia que
banhava Biblos (e a que os Gregos irão chamar Adónis) tomou, a partir deste
momento, a cor do sangue (este rio, chamado hoje Nahr-1brahim, recebe as chuvas
de terras ferruginosas).
Entretanto, Adónis tinha descido aos Infernos. A sua deslumbrante beleza
Página 2

DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
mantinha-se e a deusa Perséfone, ao vê-lo, apaixona-se imediatamente. Afrodite
não consegue suportar esta nova e ainda mais pungente dor. Dirige-se a Zeus e
suplica-lhe que intervenha a seu favor. Então, o rei dos deuses decidiu que
Adónis viveria um terço do ano nos Infernos, outro terço com Afrodite e que,
durante o último terço, seria livre de escolher o seu local de permanência.
Curiosamente, Adónis opta por passar mais este período de quatro meses junto de
Afrodite.
Da Síria, o culto de Adónis ter-se-á expandido para todo o Oriente, Grécia e
bacia do Mediterrâneo. Encarnando o cicio da vegetação, o filho de Mirra desce
ao reino dos mortos nos quatro meses de Inverno, para renascer na Primavera. A
sua fresca e virginal beleza, exposta à hostilidade de um clima devorador, é
votada ano após ano à destruição.
Os "Jardins de Adónis" evocam, à sua maneira, a vida brilhante e efémera do
favorito de Afrodite (igualmente recordada por mais de uma obra-de-arte: telas
de Ticiano, Rubens, Poussin, esculturas de Miguel-Ângelo, Canova, etc.)
13
Afrodite
Afrodite

EMO
Afrodite é uma divindade de características orientais, cujo culto foi
provavelmente introduzido na Grécia pelos Fenícios, a partir das suas feitorias,
Uma delas estabelecera-se na ilha de Cítera, próxima do Peloponeso. Por estas
razões, Afrodite é muitas vezes assimilada à deusa fenícia Astarte.
A deusa da beleza Deixando trabalhar a sua imaginação sobre o nome, de origem
asiática, da deusa, que para eles evocava a palavra aphros (espuma), os Gregos
criaram a lenda de Afrodite nascida da espuma das ondas, depois da mutilação de
úrano. Zéfiro, o vento fresco que sopra de oeste, avistou-a quando ela saía das
ondas, não muito longe da Palestina. (Elateria dado o seu nome hebraico, Yafa,
que significa "Beleza", àantiga cidade de Jafa.) Jamais se tinhavisto uma beleza
tão deslumbrante: a sua pele era de uma brancura do leite, os seus cabelos eram
de ouro, os seus olhos cintilavam, as suas formas eram verdadeiramente
harmoniosas e libertava do seu corpo um perfume de flor.
Zéfiro recolheu-a numa concha de madrepérola e conduziu-a à ilha de Chípre. Aí,
entregou-a nas mãos das Horas, as estações benéficas, que a educaram e depois a
vestiram com roupagens preciosas, ornando-a com jóias, a fim de a conduzir junto
dos imortais.
Quando ela apareceu no Olimpo, os deuses, extasiados de admiração,
proclamaram-na deusa da beleza e do amor. O poder de Afrodite irá manifestar-se
em todo o Universo. A sua soberania exercer-se-á sobre o céu e sobre o mar,
sobre as plantas e sobre os animais, sobre os homens e sobre os deuses.
As outras deusas, no entanto, viram com algum desagrado a completa submissão,
extasiada, dos deuses e dos homens perante Afrodite (se bem que Hera, por
exemplo, não tivesse nenhum escrúpulo em pedir à deusa o seu cinto ornado de
ouro, dotado de um irresistivel poder, quando queria reconquistar os favores do
seu volúvel marido). E, um dia, elas aproveitaram a ocasião para lhe disputar a
sua coroa. Durante o banquete de núpcias de Tétis e de Peleu, para o qual os
deuses tinham sido convidados, a Discórdia, Eris, lançou para o meio dos
convivas uma maçã, na qual figurava a inscrição: "à mais bela". Hera e Atena
opuseram-se, imediatamente, a Afrodite, cada uma delas reivindicando a maçã e o
título. Zeus convenceu-as a remeter esta
14

Atrodite
questão à apreciação de um mortal, e foi eleito como juiz o Troiano Páris, filho
do rei Príamo.
Hermes conduziu as três deusas junto dele, numa altura em que este vigiava os
seus rebanhos no monte Ida, na Frigia. Hera fez valer a sua arrogante beleza e
ofereceu a Páris o Império da Ásia; Atena, dotada de uma beleza severa, garantiu
a invencibilidade do príncipe troiano; Afrodite, soltando as fivelas que
prendiam a sua túnica, desnudou o seu peito e prometeu a Páris o amor da mais
bela mulher do mundo.
Sabemos qual foi o julgamento de Páris: Afrodite recebeu a maçã e o Troiano, em
recompensa, conseguiria seduzir a bela Helena, esposa do rei de Esparta,
Menelau. Este episódio marcou a origem da guerra de Tróia, horrível carnificina
na qual Hera e Atena participaram, ao lado dos Gregos, a fim de vingar o seu
despeito. Quanto a Afrodite, combateu no campo troiano -
salvando, particularmente, Páris no decurso de um combate singular contra
Menelau - tendo, entre outros motivos, o facto de Eneias, seu filho, se
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
encontrar entre os guerreiros de Tróia.
A deusa do amor Com efeito, a deusa inspiradora do amor não era, por sua vez,
invulnerável. Assim, a beleza "digna dos deuses" do Troiano Anquises fascinou-a,
a ponto de ela lhe dar um filho. Este, após a queda de Tróia, ficou responsável
pela perpetuação da sua raça e da sua pátria, transferindo-as para Itália, no
Lácio, onde, mais tarde, os seus descendentes fundariam Roma.
A primeira paixão de Afrodite parece ter sido inspirada pelo jovem Adónis, cuja
morte trágica ela chorou amargamente. Mais tarde, seduz Faetonte, filho de Eos,
e faz dele o guarda-nocturno do seu santuário. Amou ainda, igualmente, Cíniras,
rei de Chipre, conferindo-lhe opulência e longevidade.
Mas os caprichos de Afrodite não pouparam sequer o Olimpo. Com efeito, após a
sua aparição, todos os deuses se sentiram tomados por uma paixão súbita, mas foi
Hefesto, o mais desfavorecido de todos, que a levou ao altar. É evidente que a
deusa não perdeu tempo, nem teve dificuldades para encontrar, no mesmo lugar,
outros divertimentos e compensações. Assim, seduziu Hermes, que lhe deu um
filho, cujo nome simboliza a união dos seus dois nomes: Hermafrodito. Mas a sua
grande paixão foi Ares, deus da guerra, de quem teve numerosos filhos, entre os
quais figura Eros, o malicioso perturbador do coração dos deuses e dos homens.
15

Afrodite
Assim, é com profundo conhecimento de causa que Afrodite se dedica a suscitar o
desejo amoroso entre os homens e os deuses, levando-os, por vezes, à loucura. É
ela que provocará um desvario criminoso no espírito de Helena, induzindo-a a
abandonar a sua pátria. É ela que causará uma alucinação transgressora no
espírito de Medeia e de Ariana, levando-as a atraiçoar o seu pai. É ela que
conduzirá Fedra a uma paixão incestuosa, para já não falar de Pasífae, a quem
inspirou uma união monstruosa. Para além de tudo isto, e vingando-se daquilo que
ela considerava ser uma homenagem insuficiente à sua personagem, condenou Leda e
toda a sua descendência a paixões cruéis e sangrentas.
No entanto, ela é bem benevolente para todos aqueles que a veneram. Concede
beleza e sedução ao marinheiro Fauno, a fim de que ele possa conquistar o amor
da poetisa Safo, e dá vida à estátua de marfim esculpida por Pigmalião, rei de
Chipre.
O cortejo de Afrodite Afrodite, igualmente chamada Cípris (a Cipriota, sendo o
seu principal centro de culto Pafos, uma antiga colónia fenícia, situada na ilha
de Chipre) ou Citereia (do nome da ilha de Cítera, onde ela gostava de viver:
conhecemos o célebre Embarque para Cítera, terra dos amores), é acompanhada de
um cortejo de servidores e de servas que encarnam os prazeres e o encanto do
mundo. Entre elas encontram-se as Cárites, que têm uma personalidade e atributos
bem definidos: a estas três Graças compete velar pela toilete da deusa e
garantir a sedução e a alegria à sua volta.
Afrodite foi, sucessivamente, representada envolta em finos véus, seminua e
integralmente nua (a partir de Escopas e de Praxíteles, séc. iv a. C.). Os
artistas (como Botticelli, Ticiano, Velásquez, Rubens, etc.) apresentam-na,
geralmente, envolvida nas suas flores preferidas, a rosa e a murta, e
acompanhada dos seus animais favoritos, as pombas, que ela atrelava ao seu ágil
carro.
16

Agamémnon
Agiamémon
Agamémnon e o seu irmão Menelau, os Átridas, ou seja, os filhos de Atreu, rei da
Argólida, foram expulsos do seu país após o assassinato de seu pai, tendo-se
refugiado na corte de Esparta, onde Menelau desposa Helena, a filha do rei
Tíndaro.
Quando morreu Tiestes, que tinha sucedido ao seu irmão Atreu no trono, Agamémnon
apoderou-se do poder, depois de ter matado o seu primo (herdeiro do rei defunto)
e o filho deste, recém-nascido. Em seguida, obrigou a jovem viúva a desposá-lo.
Esta era precisamente a irmã de Helena, Clitemnestra, irmã dos Dióscoros,
igualmente.
Quando estes tiveram conhecimento das perversidades de que Clitemnestra era
vítima, foram pedir contas a Agamémnon, o qual preferiu procurar refúgio junto
de Tíndaro. E a corte de Esparta assistiu a uma reconciliação geral. Agamémnon e
Clitemnestra tiveram três filhos, Ifigénia, Electra e Orestes. Mas a sua união
estava amaldiçoada.
Logo que Páris, filho do rei de Tróia, Príamo, raptou Helena e que foi decidida
uma expedição punitiva contra este, Agamémnon foi escolhido como chefe supremo,
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
"rei dos reis". A guerra de Tróia sobrecarregou-o de sofrimentos e de
responsabilidades assustadoras. Logo na partida, a deusa Ártemis, para se vingar
de Agamémnon, proibiu os ventos de soprar sobre as velas dos navios gregos,
impedindo assim a partida da expedição. E Agamémnon teve de aceitar sacrificar a
sua filha Ifigénia, para apaziguar a cólera da deusa.
Durante o cerco e no decurso de uma razia em solo neutro, Agamémnon raptou a
filha de um sacerdote de Apolo, Criseida, e o deus vingou-se do sacrilégio,
espalhando a peste sobre o campo dos Gregos. Então, Agamémnon decide entregar a
cativa, mas exige que Aquiles, em compensação, lhe ceda Criseida. O conflito
entre os dois homens - Aquiles, furioso, recusa tomar parte nos combates - vai
custar muito sangue e muitas lágrimas à armada grega. Por fim, estes acabam por
reconciliar-se, após a morte de Pátroclo, o amigo de Aquiles, e a cidade de
Tróia será tomada, pilhada e incendiada.
Agamémnon traz para o seu país um saque considerável, no qual está incluída uma
das mais belas filhas de Príamo, a jovem profetiza Cassandra, pela qual se
apaixonará.
Ora, no decurso dos dez anos que tinha durado a guerra, Clitemnestra tinha
cedido às solicitações de Egisto, filho de Tiestes, a quem ela tinha con-
17

Ájax
fiado, interinamente, o poder. No regresso vitorioso do "rei dos reis", Egisto
recebe-o com grande pompa, oferece um banquete em sua honra e, no fim, manda
Clitemnestra degolá-lo durante o banho. Cassandra, que tinha previsto a sua
própria morte e a de Agamémnon, sofrerá o mesmo destino.
Agamémnon será, mais tarde, vingado pelos seus filhos: Electra dará, a Orestes,
as armas com que ele matará a sua mãe e o seu amante.
A primeira parte da trilogia de Ésquilo, a Oresteia (458 a. C.), é consagrada ao
regresso trágico de Agamémnon, e intitula-se precisamente Agamémnon.
Ájax
O nome Ájax foi dado a dois heróis gregos, um e outro combatentes na guerra de
Tróia. Só os distinguimos através do nome dos seus pais: Ájax, filho de Oileu, e
Ájax, filho de Téiamon, este último beneficiando, ainda, de outro nome, "Ájax, o
Grande". Eles não têm entre si nenhuma relação familiar, a não ser o facto de
Oileu, segundo uma certa tradição, ter desposado em segundas núpcias a irmã de
Téiamon.
Ájax, filho de Oilou, rei dos Lócrios, é pequeno, rápido - Homero chama-o Ájax,
o rápido - e combate com o arco. É um homem corajoso, mas de personalidade
difícil: turbulento, cruel e, por vezes, ímpio. É ele que, no decurso da última
noite de Tróia, tendo retirado à força, do templo de Atena, a profetiza
Cassandra, que aí se tinha refugiado, será responsável pela terrível tempestade
enviada pela deusa, na qual um grande número de navios aqueus serão destruídos.
Tendo, ele próprio, escapado ao naufrágio, tem a arrogância de se vangloriar,
desafiando, assim, os deuses. Atena, encolerizada, fulmina-o. Mas a sua vingança
vai mais longe e abate-se, igualmente, sobre todos os Lócrios. A deusa envia
sucessivas epidemias sobre a Lócrida e estas não poderão ser acalmadas a menos
que, todos os anos, fossem enviadas para Tróia duas jovens gregas, a fim de
serem sacrificadas no altar da deusa ultrajada.
18

Alceste
Ájax, filho de Télamon, rei de Salamina é, depois do seu primo Aquiles, o mais
valente e o mais vigoroso dos guerreiros gregos. É um homem de estatura elevada,
belo, senhor de si e pouco falador; rude, mas piedoso e benevolente. É esta
benevolência que o leva a acolher Pirro, filho de Aquiles, como seu próprio
filho. Mas quando este exige as armas de Aquiles, Ájax: responderá que elas
tinham sido destinadas por Tétis, mãe de Aquiles, ao mais valoroso dos Gregos
ou, pelo menos, àquele que tivesse inspirado aos Troianos o maior temor.
Os prisioneiros troianos são, então, interrogados, elegendo Ulisses como o mais
aterrador de todos os guerreiros. Na noite seguinte, obcecado pela sua decepção,
Ájax, o grande, foi tomado de uma súbita crise de demência e, acreditando estar
a matar Menelau e todos os seus, massacrou os rebanhos que alimentavam a armada
grega. De manhã, ao dar conta do seu acto, não pôde suportar a desonra e
suicidou-se, enterrando a própria espada no coração.
Sófocles consagrou a Ájax uma das suas tragédias (c. 450 a. C.; as despedidas da
vida do herói são uma página de antologia), que imita o Imperador Augusto, poeta
nas suas horas vagas.
Éaco
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
oileu
+
Aicímaco
Peleu
Téianion
Ájax, "O Pequeno"
Aquiles

Ájax, "O
Grande"
Os dois Ájax
Alceste
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a

':tU'@;>'z@""-@'â'
Alceste, uma das quatro filhas do rei Pélias, que reinava em lolco, na Tessália,
era a mais piedosa e também a mais bela de todas elas.
19

Alceste
Acimeto, rei de Feres, a cidade vizinha, e filho de um meio-irmão de Pélias, não
teve repugnância em ser seduzido pela deslumbrante formosura da sua prima e
pediu a sua mão em casamento. Mas Pélias impôs-lhe como prova preliminar,
conseguir atrelar na mesma canga, do carro real, um javali e um leão. Por sorte,
Acimeto dispunha de um servidor eficaz em vários domínios, o deus Apolo, que
Zeus lhe tinha enviado em penitência. Acimeto dirige-se, então, a Apolo que lhe
faz a atrelagem exigida, permitindo-lhe assim casar com a sua amada.
O deus consegue ainda que o seu protegido seja dispensado de morrer no dia
fixado pelo destino, se alguém, nesse mesmo dia, se sacrificasse em seu lugar.
Acimeto e Alceste irão formar um casal exemplar, tanto nas suas relações
conjugais - eles terão três filhos - como nas relações com a sua família. Graças
a isto, Alceste foi a única das filhas de Pélias a recusar prestar-se à
maquinação de Medeia que, sob pretexto de restituir a juventude ao jovem rei,
tinha obrigado as suas filhas a matá-lo e a deixá-lo arder, esquartejado, num
caldeirão.
O tempo vai passando e chega a hora marcada para Acimeto morrer. Ninguém se
apresenta para o substituir no Hades. E, então, Alceste decide oferecer a sua
vida em troca da do marido.
Ora Héracies, que tinha sido o companheiro de Acimeto na expedição dos
Argonautas, passa por Feres na altura em que toda a cidade chora a morte da
rainha. Nesse mesmo instante, ele resolve descer aos Infernos e
- Perséfone, por seu lado, também tinha sido tocada pelo sacrifício da
incomparável esposa traz de volta, a Acimeto, uma Alceste mais jovem, mais bela
e mais apaixonada do que nunca.
Eurípedes consagrou uma tragédia (430 a. C.) à lenda de Alceste, que inspirou
ainda as tragédias líricas de Lully (1674) e de Gluck (1767).
Creteu
+
Tiro
Posídon
Éoson
Feres
Pélias
Neleu
1
1
1 Jasão
Admeto
+
Alceste
Nestor
20

Almena
Almena
Zeus tinha decidido, diz Hesíodo, "ter um filho que fosse um dia o defensor,
simultâneo, dos imortais e dos humanos". Para o conseguir, ele escolheu a mais
virtuosa, a mais inteligente e também a mais bela das jovens, Alcmena, esposa do
general Anfitrião.
Alcmena - "A vigorosa" (gaba-se, particularmente, a sua alta estatura) - e
Anfitrião eram primos, nascidos de dois dos filhos de Perseu, a primeira de
Eléctrion, rei de Micenas, o segundo de Alceu, rei de Tirinto.
Quando Eléctrion, atacado pelos filhos de Ptérelas, que reivindicavam o seu
reino, viu o seu país devastado, as suas manadas arrebatadas, os seus próprios
filhos mortos em combate, resolveu ir, ele próprio, atacar Ptérelas, na sua ilha
de Tafo.
Antes da partida do rei, Anfitrião (a quem o seu tio tinha confiado o trono
assim como a guarda da sua filha Alcmena) foi resgatar as manadas roubadas, mas
no momento em que ele as conduzia para junto de Eléctrion, uma vaca
enfureceu-se. Anfitrião vibrou-lhe, imediatamente, um golpe na cabeça, mas a
arma ressaltou e foi ferir o rei, que caiu redondamente morto.
Assassino, ainda que por acidente, Anfitrião foi obrigado a exilar-se, levando
consigo Alcmena por quem se apaixonara, para casarem. Mas a jovem recusou ceder
aos seus ardores enquanto a vontade de vingança de seu pai, junto de Ptérelas,
não fosse executada.
Uma vez purificado do seu homicídio, Anfitrião procurou e obteve alianças,
especialmente a dos Tebanos, junto de quem tinha procurado refúgio e, por amor
de Alcmena, irá atacar Ptérelas no seu reino. Ele deveria matá-lo e derrotar,
completamente, as suas tropas.
Página 6

DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
Ora, enquanto ele regressava a Tebas (depois de cumprida a sua missão), ao
encontro de Alcmena, que não poderia já resistir ao seu amor, Zeus introduziu-se
de noite (uma noite que ia durar tanto como três dias) no quarto da jovem,
fingindo ser o seu marido vitorioso, e beneficiou da sua gratidão e dos seus
ardores tanto tempo retidos.
De manhã, quando o verdadeiro Anfitrião regressou, ficou desiludido ao
encontrar uma esposa muito pouco apaixonada. E ela, por seu lado, zangou-se ao
ver que o seu marido não recordava os seus recentes enlevos. A tensão tornou-se
insustentável e, então, os dois decidiram consultar o adivinho tebano Tirésias,
que lhes deu a chave do enigma.
21

Almena
Perseu
Mestor
Hipótoo
r LUI e Ias
Esténeio
Eléctrion
. - _ ião
+
Almena
+

zeus
Euristeu
íficies
Hei acies
Assim, Alemena - que sofreu, ainda, o ódio de Hera - deu à luz dois gémeos: um,
íficles, era filho do seu marido; o outro, Héracies, que se tornou o mais
ilustre de todos os heróis da mitologia grega, era filho de Zeus.
A vida de Héracies, perseguido por Hera e pelo seu cúmplice, Euristeu, primo de
Alcmena e de Anfitrião foi, desde o seu nascimento, uma sucessão de provas,
frequentemente gloriosas, mas sempre dolorosas, às quais foi associada, de vez
em quando, a sua mãe.
Quanto a esta, depois da sua viuvez e da morte dos seus filhos, partirá para
Atenas a fim de escapar à animosidade persistente de Euristeu. Quando este
morreu (às mãos de lolau, filho de ificies), Alcmena pediu que lhe trouxessem a
sua cabeça e arrancou-lhe os olhos com a ponta dos seus fusos.
Então, decidiu regressar a Tebas. Segundo uma certa tradição, ela teve, ainda,
um segundo marido, Radamante, filho de Zeus e de Europa, que se tornou juiz dos
Infernos. Quando morreu, com uma idade avançada, Zeus conduziu-a à ilha dos
Bem-Aventurados. Alcmena teria sido a última das mortais a usufruir dos favores
do rei dos reis.
A aventura romanesca de Alcmena com Zeus deu origem a um número considerável de
obras literárias (desde as célebres comédias de Plauto (c. 200 a. C.), às de
Molière (1668), intituladas Anfitrião, assim como as de Dryden, Anfitrião ou os
dois sósias (1690) e de Kleist, Anfitrião (1807), que Giraudoux assegura ter
apreciado, visto que intitulou a sua peça (na qual a virtuosa Alcmena ignora até
ao fim ter pertencido ao rei dos deuses) Anfitrião 38 (1929).
22

Amalteia
Amalteia
Amalteia alimentou, com leite de cabra, o bebé divino, Zeus, quando ele nasceu,
em Creta. Certos autores apresentam Amalteia como a esposa do rei de Creta;
outros vêem-na como uma ninfa, que teria dependurado o jovem deus numa árvore, a
fim de que o seu pai Cronos não o pudesse encontrar "nem no céu, nem sobre a
terra, nem no mar".
Uma outra tradição considera Amalteia como sendo, simplesmente, a cabra que
alimentou a criança, e que tinha entre outros dons o de assustar só com a sua
presença os estrangeiros, os deuses e os mortais.
Em recompensa pelos seus bons serviços, Zeus irá imortalizá-la, juntamente com
dois dos seus cabritos, lançando-os ao céu, onde foram transformados em
estrelas. Um dos seus cornos receberá a propriedade de se fartar até à saciedade
de tudo aquilo que pudesse ser desejado, tornando-se assim no famoso "corno da
abundância", que irá, ele próprio, fazer parte do número dos astros.
Quanto à pele do animal, Zeus tornou-a impermeável aos golpes e fez dela um
escudo, a égide (a palavra vem do nome grego da cabra: aix, aigos) que utilizou
pela primeira vez quando da revolta dos Titãs. Estes gelaram de horror perante a
sua visão. Mais tarde, Zeus irá oferecer este escudo à sua filha, Atena.
A cabra Amalteia é representada na maior parte dos quadros evocativos da
infância de Zeus (Poussin, museu de Berlim; Jordaens, museu do Louvre).
Página 7

DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
Amazonas
Povo mítico de mulheres, governado por uma rainha e não admitindo homens na sua
cidade senão como servos, as Amazonas, vindas do Cáucaso, estabeleceram o seu
reino na Capadócia (Ásia Menor).
Elas descendiam do deus da guerra Ares e, por isso, as suas paixões
23

Amazonas
eram a guerra e a caça. As Amazonas veneravam, particularmente, a deusa Ártemis,
de quem seguiam, escrupulosamente, o exemplo (atribui-se-lhes a fundação da
cidade de Éfeso e do famoso templo de Ártemis, uma das maravilhas do mundo
antigo).
Uma vez por ano, elas aceitavam no seu reino a presença de homens, a fim de
assegurar a sua descendência, mas matavam ou mutilavam todos os recém-nascidos
do sexo masculino. As filhas retiravam o seio direito', a fim de lhes permitir
manejar o arco mais comodamente.
Segundo a lenda, as Amazonas aparecem, constantemente, em oposição aos Gregos.
Belerofonte é um dos heróis que irá lutar contra estas mulheres guerreiras. Essa
luta constitui uma das provas a que ele deverá submeter-se, por ordem do seu
sogro, o rei da Lícia. Este combate resultará num grande massacre das Amazonas.
Héracies é outro dos heróis que deverá enfrentar as Amazonas. A sua missão
consiste em roubar o cinto encantado que Hipólita, rainha das Amazonas, tinha
recebido do deus Ares e que era o símbolo do seu poder.
A fim de evitar uma guerra, a rainha consente em desfazer-se do objecto em
questão, mas Hera, com a sua maldade e intriga, consegue provocar um confronto,
obrigando Héracies a conquistar pela força o cinto encantado, matando a sua
proprietária.
Certos autores afirmam que é no decurso dessa expedição que Teseu, companheiro
de Héracies, rapta a irmã de Hipólita, Antíope, que ele engravida (o
recém-nascido será herdeiro do nome de sua tia). Para punir Teseu -
deste rapto, dizem uns; da infidelidade do herói, que foi ao ponto de desposar
Fedra, dizem outros -, as Amazonas avançaram sobre a Ática, entraram em Atenas,
acamparam na colina que mais tarde terá o nome de um dos seus antepassados
divinos (Areópago=colina de Ares), mas foram vencidas por Teseu.
No decurso da guerra de Tróia, um contingente de Amazonas partiu em socorro dos
Troianos. Aquiles intervém no combate e mata a rainha das Amazonas, Pentesileia.
Conta-se que logo que ele viu o seu rosto e a sua beleza,
1 Amazona significaria, assim: privada de um seio; mesmo que se considere o
prefixo a como um aumentativo, de qualquer modo a palavra significa: mamal, e
aplica-se então, perfeitamente, a Ártemis de Peso. Se não tivermos em conta a
etimologia da palavra, o nome Amazona é dado hoje em dia às mulheres que montam
a cavalo.
24

Anfíon
sentiu o seu coração atravessado de amor e de piedade. Assim, quando Aquiles
morreu, as Amazonas decidiram saquear o seu túmulo na ilha Branca, no Ponto
Euxino. Mas a sombra do herói apareceu-lhes e elas fugiram, apavoradas.
As Amazonas são modelos por eleição da estatuária antiga: frisos do templo de
Apolo em Bassae, do Mausoléu de Halicarnasso; Amazona ferída de Policieto (séc.
v a. C.), réplicas nos Museus de Berlim e do Capitólio. Cf. igualmente a tela de
Rubens (Pinacoteca de Munique): Batalha das Amazonas (1619).
'
Anfíon

4,5
Anfíon, herói das primeiras lendas tebanas, e o seu irmão Zeto, são os filhos
gémeos de Antíope e de Zeus, que se disfarçou de sátiro a fim de seduzir a jovem
princesa. Veremos, no artigo consagrado a Antíope, como ela fugiu do palácio
paterno, como foi salva e depois capturada e maltratada por seu tio Lico que,
entretanto, se apoderara do trono.
Os seus dois filhos, nascidos em Eleutério, na Beócia, no decurso do seu
regresso forçado a Tebas, foram abandonados numa gruta do monte Cíteron, mas os
pastores recolheram-nos e educaram-nos.
Zeto dedicava-se a exercícios violentos, à luta e à caça assim como aos
trabalhos do campo. Anfíon, mais doce do que o seu irmão, inclinava-se para a
música, praticando na lira que Hermes lhe oferecera.
Quando se tornaram adultos, os dois irmãos decidiram vingar a sua mãe e
afastaram o seu carrasco do trono de Tebas. A partir de então, passaram a
governar a cidade. E, para a proteger, fortificaram-na de uma forma "mágica".
Zeto transportou os rochedos, enquanto Anfíon tocava a sua lira, cujos sons
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
induziam as pedras, encantadas, a colocar-se, por si próprias, nos sítios
certos.
Anfion casou com Níobe, filha de Tântalo, que lhe deu muitos filhos (a lenda
hesita entre dez, doze ou vinte). Orgulhosa da sua fecundidade, Níobe não receou
ofender Leto, mãe de Apolo e de Ártemis. Estes não suportaram a
25

Antíloco
ZEUS
Antíope
Anflon
Pluto
i di [aio
Imiobe
Leto
Apolo
afronta feita à sua mãe e trespassaram com flechas todos os filhos de Níobe (com
excepção de uma filha que casará com Neleu, rei de Pilos; um dos seus filhos,
Nestor, será poupado por Apolo que lhe permite viver três gerações, a fim de
compensar o massacre da sua família). A infeliz, perdida de dor, foi
transformada, por Zeus, numa rocha colocada num monte árido da Ásia Menor. E, a
partir de então, dessa rocha brotará uma nascente inesgotável, que se alimentará
das lágrimas contínuas de Níobe.
Quanto a Arifion, foi morto por uma flecha de Apolo. Segundo alguns, ao mesmo
tempo que os seus filhos; segundo outros, algum tempo depois quando, em
consequência do massacre a que assistira, enlouqueceu, tendo saqueado o templo
de Apolo.
Antíloco
Antíloco, filho de Nestor (rei de Pilos, célebre pela sua sabedoria), e o seu
irmão Trasímedo, acompanharam o seu velho pai
na guerra de Tróia. Ele
era, então, o mais jovem dos Aqueus, mas também

(segundo Menelau), o
mais valente e o mais rápido,
Antíloco era, depois de Pátroclo, o melhor amigo de Aquiles: foi ele que lhe
anunciou a morte de Pátroclo e que lhe limpou as
primeiras lágrimas.
Quando, no decorrer de um combate, Antíloco
viu o seu pai, Nestor,
ameaçado por Mémirion (filho de Eos e sobrinho de
Príamo), precipitou-se
26

Antíope
em seu socorro, acabando por ser ferido mortalmente. Mais tarde, Aquiles
vingá-lo-á, matando Mémnon.
Diz-se que os três amigos, sepultados lado a lado e reunidos, após a morte, pela
eternidade, prosseguiram, no além, a sua vida agitada de festins e de combates.
Antíopo : ---IIIII, , 1 --..-

1
Antíope era filha do tebano Nicteu. Este, à morte do rei de Tebas, foi escolhido
como regente, visto que o herdeiro do trono, Lábelaco, tinha somente um ano de
idade.
Certo dia, Zeus, surpreendido pela beleza excepcional da jovem, não resistiu e
seduziu-a no seu leito sob a forma de um sátiro. Quando Antíope se viu grávida,
temendo a cólera de seu pai, fugiu do palácio, indo refugiar-se no monte
Cíteron, onde Epopeu, o tirano de Sícion, na Argólida, a encontrou. Este, por
sua vez, comovido e deslumbrado com a jovem, recebeu-a no seu palácio e
desposou-a.
Nicteu, considerando-se desonrado, suicidou-se, mas antes escolheu o seu irmão
Lico para o substituir no poder e na vingança. Este declarou guerra a Epopeu,
matou-o e reconduziu Antíope, acorrentada, de volta para Tebas. No caminho, em
Eleutério, Antíope deu à luz dois gémeos. Lico abandonou-os para que eles fossem
devorados pelos animais selvagens, mas os pastores recolheram-nos e
educaram-nos, dando-lhes os nomes de Anfion e Zeto.
Durante anos, Antíope teria sido ultrajada e torturada cruelmente por Lico e,
sobretudo, por sua esposa, Dirce. Ora, uma noite, as suas correntes
desprenderam-se milagrosamente, permitindo-lhe a liberdade. Antíope fugiu,
dirigindo-se imediatamente para o lugar onde viviam os seus filhos, já adultos.
Mas Zeto, tomando-a por uma escrava em fuga, recusou-se a escutá-la e enviou-a
de volta para Tebas. Dirce, que tinha vindo celebrar no Cíteron o culto de
Dionísio, que ela venerava particularmente, encontrou-se, de repente, na
presença de Antíope. Imediatamente a capturou, com a intenção de, desta vez, a
mandar matar.
Página 9

DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
Entretanto, o pastor que tinha recolhido os gémeos confirmou-lhes que Antíope
era a mãe deles: os dois irmãos partiram, então, à sua procura, arran-
27
*/*
Apolo
cando-a das mãos de Dirce. Depois, prenderam esta, pelos cabelos, aos cornos de
um touro selvagem (é o tema do célebre grupo do museu de Nápoles chamado Touro
Farnésio) e, no fim, atiraram o seu corpo retalhado para uma fonte.
Quanto a Lico, foi morto pelos gêmeos ou perdoado, graças à intervenção de
Hermes? O que é certo é que ele entregou o trono de Tebas a Anfion.
Depois da vingança de seus filhos, Antíope, devido à intervenção de Dionísio que
era favorável a Dirce, enlouqueceu durante um certo tempo e andou perdida pela
Grécia. Acabou por ser curada por Foco, um neto de Sísifo, que ela encontrou em
Titoreia e com quem casou. O seu túmulo comum perto do monte Parnaso é objecto
de veneração.
As aventuras de Antíope inspiraram vários artistas, desde a Antiguidade;
destacamos, no entanto, a noite de amor com Zeus, transformado em sátiro
(Rafael, no Vaticano, Ticiano e Watteau, no Louvre).
Z A p o 1 o

w @, @.@zyf@
Apolo é um dos dois filhos gêmeos de Zeus e de Leto (que Hesíodo apresenta como
uma divindade da noite). A sua irmã Ártemis é a deusa da lua, enquanto ele é o
senhor do sol (na Antiguidade, distinguia-se o deus do sol, do próprio deus sol,
Hélios, o astro solar).
De Delos a Deifos Apolo nasceu na ilha de Ortígia, uma ilha flutuante que vai
fixar-se no centro do mundo grego e tomar o nome de Delos, "A Aparente". No
momento do seu nascimento, todas as deusas que estavam reunidas à volta de Leto,
soltaram gritos de alegria; depois, lavaram o recém-nascido e envolveram-no em
linho branco. Témis alimentou-o com ambrosia e néctar, e Apolo rapidamente se
mostrou dotado de uma força invencível e de uma beleza surpreendente.
28

Apolo
Então, Zeus ofereceu ao seu filho um carro puxado por cisnes e Hefesto
enviou-lhe flechas, especialmente forjadas para o seu uso. Assim, alguns dias
depois do seu nascimento, Apolo, acompanhado por sua irmã, decidiu viajar a fim
de escolher o lugar onde estabeleceria o seu culto. O seu carro conduziu-o ao
país dos Hiperbóireos, no norte da Grécia, onde ele se demorou algum tempo,
partindo depois em direcção ao monte Parnaso, na companhia de Ártemis. Ao
chegar, Apolo encontrou, numa caverna, um monstro que Hera, com ciúmes de Leto,
tinha contratado para se vingar da sua rival e dos seus filhos. Este monstro
tinha a forma de uma serpente e era o guardião de um antigo oráculo. Esta, ao
aperceber-se da l5resença de Apolo, investiu contra ele, mas o jovem deus,
infalível, matou-a, deixando o seu corpo apodrecer no próprio lugar, que passou
a ser conhecido como Pito (do verbo grego que significa: apodrecer), enquanto
que a serpente foi apelidada de Píton. Mais tarde, Apolo institui, em honra da
sua vítima, os jogos fúnebres conhecidos como Jogos Píticos. Entretanto, o deus
foi forçado a exilar-se um certo tempo, a fim de expiar o seu homicídio.
Dirigiu-se, então, com a sua irmã, para a Tessália, fixando-se no aprazível vale
de Tempo, entre os montes Olimpo e Ossa.
Uma vez purificado nas águas de Peneu, Apolo regressou à sua terra de eleição, a
fim de tomar posse e reactivar o velho oráculo de Píton. Mas entretanto, o deus
vislumbrou, no alto mar, um navio cretense e decidiu, imediatamente, atrair os
seus ocupantes para o seu culto. Para esse efeito, transformou-se num golfinho,
e saltando à frente do navio, conduziu-os para o seu domínio. Ao chegarem, Apolo
retomou o seu verdadeiro aspecto e fez destes homens seus sacerdotes,
instruindo-os nos segredos dos imortais. Mas como eles continuaram sempre a
chamar-lhe golfinho (delphis), esse lugar passou a ser conhecido pelo nome de
Delfos.
Os combates de Apolo As aventuras e as proezas atribuídas a Apolo são
inumeráveis. Enfrentou Héracles quando este, descontente com o oráculo, se
apoderou do tripé sagrado onde se encontrava a sacerdotisa de Delfos, a Pítia.
Zeus viu-se, então, obrigado a intervir, como mediador, a fim de que o confronto
entre os seus dois filhos tivesse fim.
No decurso da campanha contra Tróia, Agamérnrion raptou Criseida, filha do
sacerdote de Apolo, e o deus decidiu vingar-se, espalhando uma epidemia de peste
entre os Gregos, e obrigando o seu chefe a libertar a cativa.
29
Página 10

DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
Apolo
Apolo não tolerava afrontas, mas quando não fazia uso do seu arco e das suas
flechas, dedicava-se à música. Um dia, o sátiro Mársias decidiu desafiar Apolo
no domínio musical. Midas, rei da Frígia, juntamente com as Musas, foram
escolhidos como árbitros deste concurso. As Musas pronunciaram-se a favor de
Apolo, mas Midas preferiu a flauta dupla de Mársias à lira do deus. Como
castigo, Apolo dotou-o de umas orelhas de burro. Quanto ao sátiro, o deus mandou
suspendê-lo num pinheiro e esfoiá-lo vivo.
Apolo gozava, no Olimpo, de protecções privilegiadas. O seu pai Zeus
dedicava-lhe uma afeição muito particular. Assim, quando o deus do sol se
manifestava, todos os imortais se erguiam imediatamente, e enquanto a sua mãe o
aliviava das suas armas, o rei dos deuses ofertava-lhe uma taça de néctar.
Então, Apolo, com a sua beleza surpreendente, fazia brotar da sua lira sons
verdadeiramente divinos, acompanhados em coro pelas Musas. E logo todo o Olimpo
se punha a cantar e a dançar.
Esta realidade não impediu, no entanto, que Apolo entrasse em conflito com Zeus.
A primeira vez foi quando Apolo participou numa conspiração organizada por Hera.
Esta, cansada e ofendida com as infidelidades do seu marido, convenceu Posídon e
Apolo a acorrentarem-no. Mas Tétis fez abortar o golpe de Estado, pedindo ajuda
ao temível Briareu, o gigante com dez mãos. Zeus, furibundo, condenou o seu
irmão e o seu filho a um certo tempo de servidão, às ordens do rei de Tróia,
Laomedonte. Posídon foi encarregado de construir as muralhas da cidade de Tróia
e Apolo de guardar os rebanhos do rei. Quando estes terminaram o seu trabalho,
Laomedonte recusou-se a pagar-lhes o seu salário e ameaçou-os, dizendo que lhes
cortava as orelhas no caso de insistirem. Então, Posídon soltou um monstro
devastador e Apolo difundiu a peste por toda a região.
O segundo conflito entre Apolo e o seu pai foi desencadeado pelo rei do Olimpo.
Com efeito, Zeus, cansado de ver o deus da medicina, Asclépio, ressuscitar os
mOrtos, pondo assim em causa o cicio da natureza, decidiu fulminá-10 com um rMo.
Mas Asclépio era o filho preferido de Apolo, que se vingou, imediatamente,
matando os ciciopes que tinham fabricado o raio assassino. Então, Zeus, @ Or sua
vez, puniu o seu filho com um novo exílio na terra, colocando-o ao sí rviço de
Acimeto, rei de Feres, na Tessália. Este beneficiou da ajUda de ApoP @ não só
como boieiro das suas manadas (graças a ele, as vacas prOcriavam di as vezes por
ano), mas também como interveniente na prova a
30

Apolo
que Acimeto deveria sujeitar-se, a fim de conquistar a mão de Alceste, filha do
rei de loico. Esta prova consistia em atrelar numa mesma canga, um javali e um
leão. Apolo forneceu ao seu senhor a atrelagem exigida e AcImeto pôde assim
desposar a princesa.
Os amores de Apolo Apolo não foi insensível ao amor, muito embora a tradição não
lhe atribua nenhuma união legítima. Ele amou e foi muito amado, mas apesar de
tão dotado de dons, quer físicos quer espirituais, conheceu várias vezes
seguidas o sofrimento e a humilhação.

1
A ninfa Dafrie, filha da Terra, foi a primeira a repelir os avanços do deus. Um
certo dia, quando Apolo decidira vergá-la ao seu amor, a ninfa fugiu. Mas o deus
perseguiu-a e encontrou-a. E quando se preparava para prendê-la com as suas mãos
robustas, esta, desesperada, pediu ajuda a sua mãe, a Terra, que se abriu e
fechou sobre Dafrie. Nesse mesmo lugar, nasceu algum tempo depois um loureiro
(em grego: daphné) e Apolo transformou-o numa árvore sagrada, a árvore
apoliniana, por excelência.
Creúsa, filha do rei de Atenas, Erecteu, apanhava flores nas encostas da
Acrópole, quando foi vista por Apolo. Este, imediatamente apaixonado, agarrou-a
e conduziu-a a uma gruta, onde a submeteu ao seu desejo. Creúsa engravidou e
quando deu à luz o seu filho, decidiu abandoná-lo. Mas Hermes, por ordem de
Apolo, recolheu a criança, conduziu-a a Delfos e entregou-a à sacerdotisa. Pouco
tempo depois, Creúsa casou com o tessaliano Xuto, mas a sua união parecia
estéril. Então, o casal decidiu deslocar-se a Delfos para consultar o oráculo.
Este respondeu-lhes que a primeira pessoa que encontrassem ao sair do santuário,
seria o seu filho. Ora, a primeira pessoa que eles viram foi íon, o filho que
Apolo tinha dado a Creúsa. Mas Xuto, ignorando esta situação, decidiu adoptar a
criança. Entretanto, a sua afeição pelo jovem ia crescendo, perante o olhar
desesperado de Creúsa que, certo dia, decidiu envenenar o intruso. Mas uma nova
intervenção divina veio revelar, finalmente, a ligação entre íon e Creúsa (este
é o tema da tragédia íon de Eurípides). Assim, íon dará o seu nome ao ramo
"ioniario" da raça helénica, enquanto que Aqueu, o filho tardio de Xuto e
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
Creúsa, será o antepassado dos Aqueus.
Corónis era filha do rei dos Lápidas. Apolo desejou-a e possuiu-a, mas a
princesa ficou grávida e, temendo não manter o amor do deus durante toda a
31

Apolo
vida, decidiu desposar um mortal. Acontece que Apolo foi informado da notícia
por um corvo (o nome Corónis em grego significa gralha) e ficou tão furioso que
começou por maldizer o mensageiro, cuja plumagem se tornou instantaneamente
negra. Depois, condenou Corónis e o seu marido à morte. Mas estavam os dois
cadáveres a arder na pira fúnebre, quando o deus veio retirar do corpo da mãe, o
seu filho, ainda vivo. Asclépio foi então confiado ao centauro Quiron, que lhe
ensinou a arte da medicina. Entretanto, o rei Régias, pai de Corónis, decidiu
vingar-se de Apolo, avançando sobre Delfos e incendiando o templo. Mas o deus
puxou do seu arco e enviou o sacrílego para o Tártaro, onde a sua presunção foi
punida com um tormento eterno,
Outra mortal amada pelo deus do sol foi Cassandra, uma das filhas de Príamo, rei
de Tróia. Apolo ensinou-lhe a ciência profética, a troco de ela ceder à sua
paixão. Mas, uma vez iniciada, Cassandra recusou-se a cumprir a sua promessa. No
entanto, ainda permitiu um beijo ao seu apaixonado, e este aproveitou a ocasião
para depositar na sua boca uma maldição: as profecias de Cassandra nunca seriam
tomadas a sério, por ninguém.
Podemos citar ainda Marpessa, filha do rei da Etólia, que Apolo pretendeu roubar
a Idas, o homem que ela amava. Foi preciso que Zeus interviesse para que
Marpessa pudesse escolher, livremente, entre os seus dois pretendentes. Mas a
jovem, temendo ter de enfrentar um dia, quando já fosse velha, a infidelidade de
um deus eternamente jovem, decidiu sabiamente partilhar a vida com um mortal.
Existiu, ainda, uma outra mortal que se esquivou à paixão de Apolo: Castália,
uma jovem de Delfos que preferiu precipitar-se numa fonte a ceder aos desejos do
deus, Esta fonte passou, a partir de então, a ter o seu nome e a ser consagrada
a Apolo.
Mas o deus do sol também se apaixonou por jovens do sexo masculino. Um deles foi
Jacinto, filho do rei da Lacónia. Acontece que o jovem suscitou o mesmo amor aos
ventos Báreas e Zéfiro. Assim, quando um dia Jacinto se exercitava rio manejo do
disco, em companhia de Apolo, os dois ventos, ciumentos, desviaram o objecto
lançado pelo deus na direcção da cabeça de Jacinto, que morreu instantaneamente.
Mas do sangue da ferida provocada pelo golpe nasceu a flor que imortalizou o
nome do infeliz: o jacinto.
Ciparisso, filho de Télefo e neto de Héracies, foi também um dos favoritos de
Apo16. Este jovem príncipe tinha por companheiro um veado domesticado, que Wia
as suas delícias. Mas certo dia, por descuido, o jovem matou-
32

Apolo
-o com uma lança e, desesperado com o seu acto, implorou a morte. Apolo teve
piedade e transformou-o numa árvore de folha persistente que, desde então,
simboliza um luto sem tréguas: o cipreste.
As atribuições de Apolo Apolo, embora não pertença à primeira geração dos
Olímpicos, é considerado, na Antiguidade, como uma das divindades mais
importantes do seu panteão.
Os seus atributos são de tal modo vqriados, que Apolo parece resumir, na sua
personalidade, diferentes divindades com origens bem distintas: asiáticas,
gregas ou cretenses. Por isso, ele é objecto de veneração em todo o mundo
antigo. Os seus santuários multiplicam-se, muito embora Delos e Delfos sejam os
mais importantes.
No entanto, a sua faceta mais importante é a de deus solar, como podemos
verificar pelos seus epítetos: "O Dourado", o deus "com cabelos de ouro" e,
sobretudo, "o brilhante", que os romanos transformaram em Febo. Vemo-lo
percorrer a terra, ano após ano, recriando a sua primeira viagem, para alcançar
no fim do Outono os países nórdicos dos Hiperbóreos e regressar na Primavera à
sua residência de Delfos onde, durante o Verão, o sol brilha como em nenhuma
outra parte da Grécia.
A sua faceta de deus solar torna-o um deus benéfico e purificador. É ele que faz
germinar a vida e espalha a felicidade, apresentando-se por isso, quer como um
deus pastoril quer como um deus poeta e músico, o Musageta (o condutor das
Musas).
Como divindade da luz, Apolo deverá combater a obscuridade e, por essa razão, o
seu oráculo tem por missão projectar a claridade sobre as sombras que roubam aos
Página 12

DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
humanos o conhecimento. Mas o sol benéfico e purificador pode ser, também, um
agente de destruição. Deste modo, os raios solares eram entendidos, pelos
gregos, como flechas assassinas disparadas pelo cruel arqueiro. As mesmas
flechas que, certamente, mataram todos os filhos da arrogante Níobe. É esta
faceta da personalidade do deus que pode, de resto, explicar o seu nome (o verbo
grego apoilumi significa destruir).
Apolo surge-nos, assim, como um deus simultaneamente criador e destruidor. Mas a
tradição órfica irá apresentá-lo, sobretudo, como o símbolo da ordem universal,
a encarnação da harmonia.
33

Aqueloo
Nenhuma outr@ divindade da Antiguidade foi tão representada como Apolo. Ele é,
inIutavelmente, representado como um homem de rara beleza, de cabelo
encaracolado e proporções perfeitas. Aparece quase sempre nu, salvo quando é
apresentado como citarista (então é coberto com uma túpica comprida). O Apolo
antigo, dito "de Belvedere", influenciou Miquei-Ãngeio e todos os escultores
italianos do Renascimento. Rodin, Bourdelle e Despiau mostraram-se, também,
sensíveis à sedução de Apolo, assim como muitos pintores (de Rafaci a Boucher e
a Deiacroix) e músicos (Stravinski, Apolo musageta, bailado, 1928; a lenda de
Dafrie, contada por Ovídio, inspirou um acto lírico a Richard Strauss, 1938).
Aqueloo
Primogénito entre os três mil deuses-rios, filho dos Titãs Oceano e Tétis,
Aqueloo, considerado o maior rio da Grécia (limitando a Acarnénia e a Etólia),
era venerado como o rei de todos os cursos de água. (Cinco outros rios da Grécia
e da Grande-Grécia usam o seu nome e este acaba por tornar-se mesmo, entre os
Gregos, num sinónimo de rio.)
O oráculo de Delfos convidava os fiéis a fazer sacrifícios em honra deste deus
fecundante, que era também nomeado nos juramentos. Citava-se, a propósito, o
destino funesto das quatro filhas do adivinho Equino que, tendo esquecido a
invocação do deus nas suas orações, tinham sido arrastadas para o mar pela
corrente furiosa e metamorfoseadas em ilhas, as Equínades.
Devido às suas numerosas uniões, Aqueloo tornou-se pai de múltiplas e diferentes
crianças, as ninfas das nascentes - como Calirroe, Castália e talvez Pirene - e,
Igualmente, as Sereias, que lhe teriam sido dadas por Melpómene, a Muta da
Tragédia.
A lenda insisk no episódio que opõe Aqueloo a Héracies que, como ele, pretendia
a mão de Dejanira, filha do rei da Etólia, Eneu. Vencido num primeiro momento,
AquOloo apelou ao seu poder de transformação, que era inerente à maior parte dAs
divindades aquáticas. Assim, atacou de novo o seu rival,
34

Aquiles
sob a forma de uma serpente, que Héracies procurou estrangular. Depois, na forma
de um touro. Mas Héracies persistia em vencê-lo, e no combate terminal Aqueloo
perdeu um corno, no qual alguns reconhecem o corno da abundância.
Aqueloo é representado quer como um dragão marinho, quer na forma de um touro
com rosto humano, quer ainda na forma de uma personagem barbuda com cornos de
touro.

1
O rio é nomeado nos nossos dias com o nome de Aspropotamos.
Aquiles
Aquiles, o maior dos heróis gregos, é filho de Peleu, rei da Riótida, na
Tessália. Pela parte de seu avô Éaco, ele descende de Zeus (alguns dizem de
Posídon). Curiosamente, os vassalos de Peleu são chamados Mirmidões, desde que
Zeus, desejoso de dar um povo a Éaco, transformou uma colónia de formigas
(myrmex), em homens.
A mãe de Aquiles é a Nereide Tétis, neta da Terra e do Mar, apesar de Aquiles
poder ser considerado como descendente pessoal da Terra Primordial e do Céu (por
parte de seus pais), assim como do mar (por parte de sua mãe).
Zeus e Posídon desejaram ambos conquistar Tétis. Mas o oráculo revelou que o
filho que nascesse da Nereide seria mais poderoso do que o seu próprio pai.
Perante esta revelação, os deuses resolveram casar Tétis com um mortal, e todo o
Olimpo assistiu às núpcias de Tétis e de Peleu.
lnfãncia e adolescência de Aquiles Entretanto, Tétis, desde que os seus filhos
nasceram, só tinha um pensamento: purificá-los de todas as características
mortais, que eles tinham herdado de seu pai. Assim, mal as crianças nasciam,
Tétis tentava purificá-Ias pelo fogo, mas elas morriam, inevitavelmente,
queimadas. Isto aconteceu com os seis primeiros filhos, para grande desespero de
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
deu a volta às muralhas de Tróia. E só largou o corpo ensanguentado e desfeito,
quando o velho Príamo lhe veio suplicar indulgência.
39

Aquiles
A tradição pós-homérica acrescentou, ainda, outras proezas a Aquiles. Entre
estas podemos destacar a sua luta contra a rainha das Amazonas, Pentesileia, que
veio com as suas tropas em socorro dos Troianos e perdeu a vida às suas mãos. No
último momento, quando Aquiles viu o rosto da sua vítima inflamado por uma
súbita e impossvel paixão, chorou sobre o seu corpo.
Relata-se, igualmente, o seu encontro com Mérnnon, filho da Aurora, que terminou
com a morte do Troiano, e foi uma fonte inesgotável de lágrimas para sua mãe.
A morte de Aquiles Apesar da valentia e dos feitos de Aquiles, a fatalidade não
podia deixar de acontecer. A morte do grande herói da Antiguidade é apresentada
em duas versões diferentes. Uma relata-nos que ele morreu em combate, ferido no
calcanhar por uma flecha assassina, atirada por Páris, mas guiada por Apolo,
vingador do seu filho Tenes.
A outra versão, mais romanesca, diz-nos que o herói se apaixonou por Polixena, a
filha mais jovem do rei troiano e que, por amor dela, esteve quase a abandonar a
causa dos Gregos. Certo dia, Aquiles encontrou-se com a jovem num templo de
Apolo, muito próximo de Tróia, mas Páris, irmão de Polixena, surgiu empunhando o
seu arco e, vendo o seu inimigo numa postura galante feriu-o, fácil e
cobardemente, com uma flecha no calcanhar. Os Gregos, persuadidos de que
Polixena tinha organizado uma cilada, ao apoderarem-se da cidade de Tróia,
desvaneceram-se à sua procura. Pirro, filho de Aquiles, que os Gregos tinham ido
buscar para que tomasse o lugar de seu pai no exército, descobriu-a e imolou-a
sobre a sepultura do herói.
Aquiles, após a morte, recebeu a justa recompensa por toda uma vida de feitos
heróicos e de combates. Zeus, a pedido de Tétis, conduziu-o à ilha dos
Bem-aventurados, onde ele casou com uma heroína (cita-se Medeia, Ifigénia,
Polixeria, e mesmo Helena: da sua união com esta, teria nascido um filho alado,
Euforião, que é identificado com a brisa da manhã).
Na Antiguidade, Aquiles foi venerado como o modelo de herói por excelência. Um
herói simultaneamente belo, robusto e corajoso, que tentou sempre elevar-se
acima da sua simples condição de mortal (os estóicos, no entanto, condenaram o
seu temperamento violento, muitas vezes escravo das suas paixões). Por isso, ele
foi venerado em todo o mundo grego, embora o
40

Árcade
centro do seu culto se tenha fixado nas margens do mar Negro. Confirma-se que o
seu túmulo se encontrava numa ilha deste mar, a ilha Branca (Leuké), igualmente
chamada "Aquileia".
As obras literárias em que Aquiles aparece como herói são abundantes (Para além
da Ilíada e da Odisseia - onde acompanhamos a vida de Aquiles no Inferno -,
podemos destaca[, ainda, a Ifigénia em Áulis, tragédia de Eurípides, "imitada"
mais tarde por Racine (1674) e transformada em ópera por Gluck (1774), O
Aquileide, poema épico de Stace, etc.); e as artes plásticas (pinturas de vasos,
esculturas, etc.) deleitam-se sempre (cf. telas de Rubens, Teniers, Ingres,
Delacroix) com as suas múltiplas façanhas.
Arcade ou,@ mã
Z_53H1,1

MIM-INIk
Árcade era filho de Zeus e da ninfa Calisto, que foi transformada em ursa (para
escapar ao furor ciumento de Hera), sendo por isso criado e educado pela ninfa
Maia, mãe de Hermes.
Alguns autores afirmam que o seu avô materno, o cruel rei Licáon, o matou ainda
criança, servindo-o depois, em banquete, ao seu pai Zeus. Mas o deus vingou-se,
destruindo o palácio e transformando Licáon num lobo. Depois, ressuscitou o seu
filho.
Mais tarde tornou-se rei da Arcádia, ensinando aos seus súbditos a arte de
cultivar a terra, de amassar o pão e de fiar a lã.
À sua morte, os seus três filhos partilharam entre si o reino de Árcade. Certo
dia, quando Árcade caçava, deparou subitamente com uma ursa, que parecia
contemplá-lo. O herói preparou-se imediatamente para a abater com uma flecha,
não sabendo que se tratava de sua mãe. Mas Zeus, vigilante, deteve o seu braço.
Depois, transformou Árcade no guarda dos ursos, transportando em seguida a mãe e
o filho, finalmente reunidos, para o céu, onde os colo-
41
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
Ares
cou entre as constelações. (A estreia Arcturo - do grego arctouros, de arctos:
ursos e ouros: guarda - está situada na cauda da Ursa Maior.)
Ares
Filho de Zeus e de Hera, de quem terá herdado o carácter intratável (segundo seu
pai), Ares nasceu na Trácia, o país das laranjas, dos cavalos e dos guerreiros.
Ele pertence à geração dos doze grandes deuses do Olimpo, sendo venerado como o
deus da guerra e da luta. A sua força física invulgar correspondia à sua fúria
sanguinária. (Relacionamos o seu nome com a raiz grega arque significa:
destruir.)
Ares era completamente obcecado pela luta. Deleitava-se a percorrer com a sua
quadriga os campos de batalha, coberto com uma armadura de bronze e munido com
uma enorme lança, espalhando o terror. Habitualmente era acompanhado por Éris, a
Discórdia, e pelas sombras Kéros, sequiosas de sangue fresco.
Todo o Olimpo se afastava dele e o seu próprio pai não lhe escondia a sua
antipatia. Curiosamente, o seu maior inimigo, como ele filha de Zeus, era Atena,
deusa da razão, com quem entrava frequentemente em conflito. Ela dominava-o e
atormentava-o facilmente, pois a violência de Ares era tão primária nas suas
manifestações, tão pouco subtil, que o colocava assiduamente em situações
humilhantes. Recordemos, a propósito, a sua captura pelos dois gigantes Aloídas,
que o prenderam durante treze meses num vaso de bronze, até que Hermes o veio
libertar. Mas a pior de todas as suas humilhações foi-lhe infligida por Hefesto.
Hefesto era casado com Afrodite, que o traiu exactamente com o deus da guerra.
Ora, para evitar que o sol, ao despertar, revelasse o seu segredo, Ares colocou
como sentinela o seu favorito Alectrião. Mas, certa manhã, este adormeceu, e
então Hélio descobriu o casal e avisou Hefesto. Furioso, o deus do fogo e da
metalurgia lançou sobre os amantes uma rede invisível, a fim de os aprisionar.
Depois convocou todas as divindades do Olimpo, para que elas assistissem ao
despertar dos culpados e ao seu embaraço. Mais tarde, Ares, por vingança,
transformou o seu favorito num galo que, a partir desse dia, vigiaria e
anunciaria, pontualmente, o nascer do sol.
42

Ares
Afrodite foi, sem dúvida, o seu grande e único amor entre as imortais, a ponto
de Ares se comportar como um amante possessivo e ciumento, desembaraçando-se
ardilosamente dos seus rivais, como Adónis, a quem ele inspirou a paixão pela
aventura, conduzindo-o assim à morte. Desta união ilícita nasceram diversas
crianças (destacamos, entre outras, a Harmonia e o malicioso Eros, mas também o
povo guerreiro das Amazonas, descendente de Ares, é apresentado, por vezes, como
nascido de Afrodite). Apesar disto, Ares contraiu outras uniões, mas a sua
posteridade não conheceu uma sorte invejável. Os filhos nascidos destes amofes
são, todos eles, apresentados como seres sem grande importância, seres violentos
e salteadores.
Flégias, por exemplo, incendiou por vingança o templo de Delfos, sendo morto por
Apolo. Diomedes, que alimentava os seus cavalos com carne humana, acabou, ele
próprio, por servir de repasto a estes animais. E o obstinado Meleagro só
conheceu uma vida de provações e dificuldades. E, finalmente, a infortunada
Alcipe foi violentada por um filho de Posídon, que Ares posteriormente matou.
Mas Posídon procurou vingar-se, conduzindo-o perante o tribunal dos deuses, que
se reuniu no próprio sítio do crime, numa colina de Atenas. Apesar de tudo, o
assassino beneficiou de circunstâncias atenuantes, não sendo por isso
sacrificado. E a colina onde se realizou o julgamento recebeu o nome de colina
de Ares, o Areópago, servindo doravante de sede dos processos de carácter
religioso.
Ares (os Romanos deram-lhe o nome de Marte) foi representado pelos escultores e
pintores de todos os tempos (Roma, museu Borghèse e Paris, Louvre). Citemos,
entre aqueles que o associaram a Afrodite (Vénus): Piero di Cosimo (Berlim),
Botticelli (Londres), Mignard (Avigon), Le Brun (Louvre), Poussin (Louvre),
Véronèse (Turim), Boucher (Londres); e entre aqueles que o pintaram na companhia
de Atena (Minerva): Véronèse (Berlim), David (Londres), etc. Velásquez
consagrou-lhe uma tela célebre (Madrid, museu do Prado).
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Aristeu
Aretusa
A ninfa Aretusa é uma das companheiras de Ártemis. O deus-rio Alfeu, que tentou
em vão seduzir a deusa, acabou por apaixonar-se pela sua companheira quando,
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certo dia, a viu banhar-se nas suas águas, depois do esforço de uma caçada. Para
a conquistar, ele resolveu dedicar-se também à caça, mas Aretusa, fiei ao seu
voto de castidade, fugiu, escondendo-se na Sicília. No entanto, Alfeu
perseguiu-a e a ninfa viu-se obrigada, para lhe escapar, a transformar-se numa
fonte (na região de Siracusa). Segundo uma das versões da lenda, o deus acabou
por possuí-Ia, ao misturar as suas águas com as dela.
O rosto de Aretusa figura numa moeda de Siracusa (c. 480 a. C.). Uma página das
Metamorfoses de Ovídio de Benjamin Britten (compositor contemporâneo) é-lhe
consagrada.
Aristeu
MODO
A ninfa Sirene era filha do rei dos Lápitas, na Tessália. Certo dia, quando ela
caçava perto do monte Pélio, Apolo viu-a e imediatamente a raptou,
transportando-a no seu carro para a Líbia. Desta união "forçada" nasceu um
filho, Aristeu.
Aristeu foi confiado às Horas - as Estações - que o alimentaram de ambrosia e de
néctar. Mas segundo uma outra tradição, teria sido o centauro Quíron e as Musas
que o tinham educado, instruindo-o em diversas artes: a agricultura, a medicina
e a adivinhação.
Mais tarde, vivia ele na Beócia, casou com uma das filhas do rei de Tebas,
Cadmo, a jovem Antónoe. Desta união nasceu um filho, Actéon (que Ártemis
transformou em veado para ser devorado pelos seus próprios cães).
Entretanto, no decurso da uma estada na Trácia, Aristeu apaixonou-se por
Eurídice, esposa do poeta Orfeu. Mas esta, ao tentar escapar-lhe, pisou uma
serpente, morrendo em consequência da mordedura.
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Ártemis
Aristeu tomou parte, como comandante de um exército de Arcádios, na conquista da
índia, organizada por Dioniso. Durante a expedição ele desviou, com a ajuda de
seu pai e de Zeus, que enviaram os ventos etésios, uma epidemia que grassava nas
Cíciades. E a partir de então estes ventos, vindos do norte, passaram a
reaparecer todos os anos, a fim de refrescar e purificar esta zona da terra.
Quanto a Aristeu, cujo nome (em grego) significa o muito bom, ele irá difundir
na Arcádia, e depois em toda a Grécia, os conhecimentos que tinha adquirido a
nível agrícola. Assim, ensinará aos Gregos a arte de amestrar as abelhas, de
tratar do gado, de preparar o leitee de cultivar a oliveira e a vinha.
Mais tarde, quando Aristeu desapareceu misteriosamente da face da terra, passou
a ser venerado como o protector e benfeitor das manadas e dos trabalhos do
campo.
Ártemis

MEU
Segundo a tradição mais corrente (em Elêusis, por exemplo, ensinava-se que
Ártemis era filha de Deméter), Ártemis é filha de Zeus e de Leto, e irmã gêmea
de Apolo. Tal como o seu irmão, também ela é uma divindade da luz (a
"Brilhante", Febo), mas da luz nocturna, lunar.
A virgem Ártemis e as suas vinganças Ártemis nasceu na ilha de Ortigia (Delos),
um dia antes de seu irmão. O seu nome parece provir do adjectivo grego artémès
que significa: de boa saúde. Após o seu nascimento, ela pediu como presente, a
seu pai, Zeus, uma armadura completa de caçadora e este encarregou Hefesto de
lhe forjar um arco em ouro. A partir de então, ela começou a acompanhar Apolo
nas suas expedições, estando presente quando ele matou a serpente Píton e
seguindo-o depois no seu exílio na Tessália. Mais tarde, quando Apolo regressou
a Delfos, Ártemis preferiu dirigir-se para a selvagem Arcádia, uma zona
montanhosa, rica em caça e com numerosas fontes, que permitiam um banho
reparador depois da fadiga de uma caçada. A deusa era acompanhada por um cortejo
de ninfas, que a ajudavam a cuidar dos seus cães, partilhando também dos seus
divertimentos e prazeres.
45

Ártemis
Curiosamente, ela tinha excluído o amor da sua vida, mantendo-se virgem e casta,
e obrigando as suas companheiras a seguirem o seu exemplo. Se uma delas traísse
este voto, ainda que involuntariamente - como aconteceu com Calisto, seduzida
por Zeus - seria castigada. E se algum indiscreto violasse o segredo da sua
intimidade, Ártemis não hesitaria em puni-lo de modo exemplar. Ora isto
aconteceu exactamente com Actéon, filho de Aristeu que, no decurso de uma
batalha, surpreendeu a deusa quando esta se banhava, completamente nua, numa
fonte. Extasiado, Actéon prolongou a sua contemplação e a deusa imediatamente o
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castigou, transformando-o num veado que, depois, foi devorado pelos seus
próprios cães.
Mas será que Ártemis nunca terá sentido o fogo da paixão? Parece que a deusa se
terá impressionado com a beleza do caçador gigante Oríon, filho de Posídon. No
entanto, este não sobreviveu a este fogo insólito. Não sabemos se foi Apolo que
interferiu, a fim de proteger a sua irmã do seu desejo traiçoeiro (conta-se que
ele a desafiou para atingir com as suas flechas um objecto que aparecia, de
longe a longe, no meio das águas. A deusa aceitou o desafio e trespassou,
involuntariamente, a cabeça de Oríon, que nadava no alto mar) ou como se afirma
noutra tradição, se foi a própria Ártemis a provocar a morte do gigante quando,
após uma caçada que faziam em conjunto, na ilha de Quios, este esboçou um gesto
arrebatado de desejo. Imediatamente a deusa (recordando o seu voto de castidade)
fez surgir da terra um escorpião que picou o imprudente. Ártemis ficou tão
reconhecida ao animal que preservara a sua virtude, que o imortalizou, fazendo
dele uma constelação. Entretanto, Oríon também lucrou com a metamorfose, pois
foi enviado para junto das estrelas.
Ártemis era uma deusa que não perdoava aos mortais uma falta de respeito ou um
atentado ao seu domínio, castigando-os cruelmente quando estes a ofendiam. Foi o
que aconteceu com Agamémnon. Com efeito, o "rei dos reis" não receou matar um
veado num bosque consagrado à deusa. Mas quando esta soube, impediu os ventos de
soprarem, impossibilitando assim a partida da frota grega para Tróia. E em
seguida participou a Agamémnon que só mandaria regressar os ventos se ele
sacrificasse em seu louvor a sua filha Ifigénia. Mas entretanto, desta vez, a
deusa demonstrou alguma piedade pela vítima inocente que transformou na
sacerdotisa do seu santuário de Táurida.
Os atributos de Artemis Tal como Apolo, a deusa da Lua era dotada de atributos
variados e contraditórios. Por um lado, manifestava qualidades simpáticas e
benéficas: diri-
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Ártemis
gia o coro das Musas, proferia oráculos, dava bons conselhos, curava as doenças
ou as feridas, protegia as águas termais e as viagens, em terra e no mar, e
ainda velava pelos animais domésticos e pelos campos. Mas, simultaneamente,
Ártemis era a deusa da caça, aterrorizando, portanto, os animais selvagens. Esta
era a sua faceta cruel e, por vezes, mesmo bárbara. Com efeito, a deusa
divertia-se a oprimir os mortais, a desencadear epidemias ou a provocar a morte
violenta, merecendo bem o cognome de Apolussa, a Destruidora.
Os Romanos identificaram Ártemis com a deusa itálica Diana, em cujo nome se
reconhece a raiz di, que evoca a lúz. A segunda-feira era o seu dia, o dia da
Lua (cf. o inglês monday e o alemão montag).
Mas a Diana de Éfeso não tem, praticamente, nenhuma relação com a casta Ártemis
dos Gregos. O seu nome deriva, assim, da semelhança que existe entre a maior
parte dos atributos das suas deusas. Na realidade, a deusa de Éfeso é uma
deusa-mãe, por excelência, deusa da natureza e, consequentemente, deusa lunar,
caçadora, protectora dos mares e das cidades. Os habitantes de Foceia, que
colonizaram Marselha, colocaram-se sob a sua protecção.
Ártemis (Diana) é comummente representada na Antiguidade e em várias outras
épocas (pelos escultores J. Goulon, G. Pilon, Houdon; pelos pintores F. Clouet,
Ticiano, Le Corrège, Véronèse, A. Carrache, Rubens, Le Dominiquin, Vermeer,
Watteau, Boucher, etc.) como uma jovem robusta e de rosto severo (opondo-se
assim à beleza alegre e provocante de Afrodite); aparece vestida com uma túnica
arregaçada, que lhe deixa as pernas livres para correr, e é acompanhada de uma
corça ou de um cão (o cão da caça ou o cão que ladra à Lua). Umas vezes surge
munida de um arco e de um carcás, outras de um archote. Usa geralmente o
crescente lunar como diadema. A representação de Ártemis de Éfeso é
completamente diferente. A deusa surge-nos coberta com uma túnica comprida,
decorada com diversos animais, as mãos abertas num gesto ritual, e ostentando
uma multiplicidade de seios, símbolo evidente de fecundidade.
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Asclépio
Asclépio w~, ;-Uu,,U

@,,,,wko@uA lenda mais conhecida, concernente a Asclépio, foi-nos legada por Píndaro. Ela
conta-nos que a ninfa Corónis, depois de ter engravidado de Apolo, e temendo não
manter esse amor, resolvera casar com um mortal. O deus, enfurecido, decidira
vingar-se, punindo-a com a morte. Mas quando o corpo da jovem começou a ser
consumido na pira fúnebre, Apolo, cheio de remorsos, arrebatou o filho ainda
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vivo das entranhas de sua mãe. E este tornou-se o seu filho preferido, Asclépio.
O centauro Quíron, encarregado de o educar, iniciou-o na arte da medicina e
Asclépio, dotado de um sentido de observação invulgar, progrediu rapidamente nos
seus conhecimentos. Mas certo dia uma serpente surgiu-lhe no caminho,
enrolando-se na vara que ele empunhou. Asclépio deitou-a por terra e matou o
animal. Acontece que, miraculosamente, apareceu uma segunda serpente. Esta
trazia na sua boca uma certa planta, com a qual ressuscitou o réptil morto. Este
acontecimento, carregado de simbolismo, foi para Asclépio uma revelação. A
revelação da virtude das ervas medicinais. E assim, encontramos aqui a origem do
caduceu (duas serpentes enroladas à volta de uma vara), que se tornou no emblema
do corpo médico.
A partir do momento em que Asclépio começou a pôr em prática os seus
conhecimentos, os seus sucessos multiplicaram-se, valendo-lhe uma reputação
extraordinária.
A certa altura da sua vida casou com a filha do rei de Cós, Epíone, que lhe deu
dois filhos e cinco filhas. Os rapazes, Macáon e Podalírio, herdaram do seu pai
o poder de curar. Fizeram-no, por exemplo, no decorrer da guerra de Tróia, na
qual participaram como médicos das tropas gregas. Macáon cuidou de Télefo e de
Menelau e operou Filoctetes.
As filhas de Asclépio também o ajudaram na sua função, particularmente Hígia
(deusa da saúde) e Panaceia (que personifica a cura de todos os males, através
das plantas). Para além dos seus filhos, também Telésforo, o pequeno gênio da
convalescença, que os escultores representam muitas vezes ao lado de Asclépio, o
Apolou no seu ministério.
Alguns autores afirmam que Asclépio terá recebido, de Atena, uma pequena
quantidade do sangue que brotou da ferida da Górgona, e que daí teria extraído a
fórmula para ressuscitar os mortos. E terá ressuscitado tantos que Hades,
temendo ter de fechar as portas do seu reino por falta de candidatos,
48

Astros
foi queixar-se a Zeus. Este, receando que a ordem universal fosse subvertida
pela descoberta de Asclépio, decidiu fulminá-lo. Mas Apolo imortalizou-o,
transformando-o numa constelação, chamada serpentária, na qual reconhecemos
Asclépio segurando uma serpente.
Considerado pelos humanos como deus da medicina, mantendo ou restituindo aos
mortais o calor da vida e a claridade do dia, Asclépio foi objecto de uma enorme
veneração em todo o mundo antigo, grego e romano. E o culto que lhe era prestado
não só tinha um fim religioso, mas também terapêutico. Os santuários, dos quais
o mais célebre foi Epidauro (uma versão da lenda aponta-o como o local onde
Coróni@ terá dado à luz), eram instalados fora das cidades, em zonas escolhidas
pela sua salubridade. Os sacerdotes transmitiam os segredos (da cura) de pai
para filho. Um dos mais ilustres terá sido Hipócrates, que se dizia ser
aparentado com o deus. Os doentes, que afluíam de todas as partes do mundo
antigo e que pertenciam a todos os grupos sociais, eram alojados nas
dependências do templo e, durante o seu sonho, reviam o deus, que lhes revelava
o remédio para os seus males.
Asclépio é representado como um homem maduro, vigoroso, de rosto benevolente e
barbudo; Denis, tirano de Siracusa no séc. iv a. C., confiscou a barba de ouro,
de uma estátua de Esculápio (nome romano de Asclépio) do Epidauro, justificando
que não era normal que um filho fosse barbudo, quando o seu pai era imberbe.
Astros

W'@I
Na Antiguidade, os homens personificaram, com muita frequência, as forças da
natureza, transformando assim determinadas divindades em astros.
O Sol e a Lua foram objecto de cultos variados (muito elaborados, com os nomes
de Hipérion, Hélio, Apolo, Mitra, Selene, Ártemis (Diana), Hécate... assim como
as estrelas e, particularmente, as constelações.
Os Romanos, muito influenciados pela astrologia oriental, identificaram
49

Atalanta
os doze deuses do Olimpo com os astros e popularizaram uma correspondêhcia já
esboçada pelos Gregos:
Carneiro: Minerva (Atena) Touro: Vénus (Afrodite) Gêmeos: Apolo Caranguejo:
Mercúrio (Hermes) Leão: Júpiter (Zeus) Virgem: Ceres (Deméter) Balança: Vulcano
(Hefesto) Escorpião: Marte (Ares) Sagitário: Diana (Artemis) Capricórnio: Vesta
(Héstia) Aquário: Juno (Hera) Peixes: Neptuno (Posídon)
O Sol, que os astrólogos apresentam como o corego dos planetas, torna-se durante
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o Império a divindade suprema do panteão romano.
Atalanta
Atalanta é filha do arcádio Íaso, que só queria filhos do sexo masculino. Assim,
quando a criança nasceu, ele abandonou-a no monte Pártenon, mas esta foi
alimentada por uma ursa e recolhida por caçadores que a criaram.
Assim, a jovem sofreu uma educação rude e viril, muito semelhante àquela que a
deusa caçadora Ártemis impunha aos seus fiéis. E, tal como a deusa, também
Atalanta jurou resistir às tentações do amor. Certo dia, dois centauros tentaram
violá-la, mas ela venceu-os e matou-os.
Curiosamente, Atalanta foi a única mulher admitida por Jasão na expedição dos
Argonautas. Quando estes regressaram a lolco, participaram nos jogos fúnebres
organizados em honra do rei morto. E Atalanta participou na prova de luta,
ganhando o prêmio de melhor lutadora, ao vencer Peleu.
A jovem foi também convidada para a caça ao javali de Cálidon, uma das mais
aventurosas e dramáticas temeridades da lenda. E foi ela que, primeiramente,
atingiu o animal com a sua lança. Só depois disso é que Meleagro, filho do rei
de Cálidon, o matou. Recebendo, como era costume, os restos mortais da vítima, o
jovem príncipe ofereceu-os à caçadora, pela qual se
50

Atena
apaixonara, entretanto. Mas os seus tios ficaram indignados com a sua atitude,
pois consideravam que os despojos lhes deveriam ter sido oferecidos a eles, como
parentes próximos que eram. Irritado, Meleagro combateu-os e matou-os, mas não
sobreviveu a esta aventura.
íaso, que com o tempo aceitou reconhecer a sua filha, admitindo sem dúvida que
ela manifestava qualidades pouco comuns, quis dar-lhe um marido a fim de
perpetuar a descendência. Atalanta, depois de ter recusado esta possibilidade
durante muito tempo, acabou por decidir que só aceitaria como marido alguém que
a vencesse na corrida. E aqueles que falhassem na prova seriam imediatamente
mortos. Este foi o destino de grande número de pretendentes. Mas um dia,
Hipórnenes apresentou-se a fim de vencer a corrida. E para isso contou não só
com as suas pernas, mas também com a sua intuição psicológica, levando consigo
laranjas que Afrodite lhe ofertara. Quando a partida foi dada, Hipórnenes atirou
as laranjas para a pista e Atalanta caiu na armadilha. Parou, a fim de apanhar
as laranjas, sendo assim vencida e conquistada.
Mas algum tempo depois, no decurso de uma caçada, os dois esposos cometeram a
imprudência de se amar num santuário consagrado a Zeus. Este, indignado com o
acto de profanação, transformou-os em leões (na Antiguidade acreditava-se que os
leões não acasalavam entre si).
A lenda atribui um filho a Atalanta, mas não se sabe ao certo se o seu pai foi
Meleagro, Hipórnenes ou o deus Ares. Partenopeu (do nome parthènos), que foi o
companheiro de Télefo, tinha tanto de corajoso como de belo, mas acabou por
encontrar a morte em Tebas, no decurso da expedição dos Sete contra Tebas.
Cf. o quadro A Corrida de Atalanta e de Hípómenes (museu de Nápoles).
Atena
A deusa Tétis, filha dos Titãs Oceano e Tétis, foi a primeira esposa de Zeus.
Divindade da sabedoria e da razão, "ela sabia mais, diz Hesíodo, que
51

Atena
todos os deuses e homens juntos". Foi ela que preparou uma droga, graças à qual
Cronos restituiu à vida os irmãos e irmãs de Zeus, que ele tinha "absorvido",
quando estes nasceram. Ora Gaia e úrano, depositários dos destinos, advertiram
Zeus de que se Métis lhe desse filhos, um deles agiria contra ele, como ele
tinha feito com o seu pai Cronos e como Cronos, ele próprio, tinha feito com o
seu pai úrano, ou seja, destroná-lo-ia.
Atena nasce completamente armada Quando Métis aparece grávida, Zeus decidiu,
usando um procedimento cuja eficácia tinha verificado, devorar a sua esposa. Ao
fazê-lo, ele não só afastava o perigo, mas incorporava os dons poderosos e
exclusivos de Métis, transformando-se assim no deus da sabedoria.
Algum tempo depois do desaparecimento da deusa, Zeus começou a sentir fortes
dores de cabeça. Estas foram aumentando e Zeus teve de recorrer a uma
trepanação. Para isso, chamou Prometeu - outros autores dizem que foi Hefesto (o
filho que Zeus teria tido, fora do casamento, com Hera, a sua futura mulher) - e
ordenou-lhe que lhe abrisse o crânio com um golpe de machado. O "médico" assim
fez e do corte emergiu, completamente armada, e dando um grito de vitória que
abalou o céu e a terra, Atena, que viria a ser a filha preferida do rei dos
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
deuses.
A operação teve lugar na Líbia, nas margens do lago Tritones. Uma tradição
tardia conta que o deus deste lago, Tritão, teve uma filha chamada Palas. Atena
e Palas teriam crescido juntas e, certo dia, quando brincavam "às guerras",
Atena, sem querer, provocou a morte da sua companheira. Entristecida, a deusa
fez uma estátua em tudo semelhante à amiga e juntou ao seu próprio nome o de
Palas. Este episódio da infância de Atena era recordado todos os anos na Líbia,
através de um "festival" onde as jovens, divididas em dois campos, lutavam entre
si.
Uma outra versão da lenda conta que a deusa tinha o nome duplo de Palas-Atena,
porque no decurso de uma luta dos Olímpios contra os Gigantes, Atena tinha
matado o gigante Palas, esfolando-o vivo e revestindo-se com a sua pele. No
decorrer do mesmo combate, a deusa teria derrotado o gigante Encélado, numa ilha
da Sicília.
Deusa da razão Atena é, simultaneamente, uma deusa guerreira e uma deusa da
inteligência e da sabedoria. Na sua faceta de divindade guerreira
(Atena-Prornaco:
52

Atena
aquela que combate à frente), ela personifica a inteligência táctica face à
brutalidade animal que incarna o seu meio-irmão, Ares. Ela saberá inventar o
carro de guerra e presidirá à construção do navio Argo, o maior navio conhecido
até então. Para além disso, será a inspiradora dos heróis hábeis e ponderados
como Perseu, Belerofonte, Héracies, Diomedes, Aquiles ou Ulisses (a quem ela
protegerá o filho, Telérnaco, sob a aparência do sábio Mentor). A sua
parcialidade a favor dos Gregos, na guerra de Tróia, explica-se pela afronta que
o troiano Páris lhe teria infligido, ao recusar-lhe, em proveito de Afrodite, o
prêmio reservado à beleza.
Nos momentos de paz, Atena personifida a benevolência. É ela que ensina aos
humanos a arte de domar os cavalos, as técnicas da olaria, da tecelagem e dos
bordados. Mas a deusa gosta de ver reconhecidos os seus talentos e favores, por
isso sentiu-se vexada com o julgamento de Páris. Assim, quando alguém a
desafiava, era imediatamente castigado: foi o que aconteceu com a jovem Aracrie.
Esta decidiu desafiar Atena na técnica da tecelagem e dos bordados, e a deusa
transformou-a numa aranha, a fim de que ela passasse os seus dias a tecer a sua
própria teia.
Certo dia, Atena lançou o seu olhar sobre a terra da Ática. Mas esta pertencia
ao seu tio, Posídon, e portanto os dois vão disputá-la. Posídon, para fazer
valer os seus direitos, tinha feito nascer, com um golpe de tridente sobre a
colina da Acrópole, uma fonte de água salgada, segundo uns, ou um cavalo, dizem
outros. Quanto a Atena, fez florescer uma oliveira (liga-se o nome de Atena a
duas raizes do sânscrito que significam: ferir e colina). Os deuses, chamados a
pronunciar-se, submeteram-se à opinião do rei Cécrops, que compreendeu a
importância que a oliveira podia ter para o seu povo, e elegeram Atena, que deu
o seu nome à cidade de Atenas.
A virgem protectora Em Atenas, a deusa é venerada com um culto muito particular,
que vai desde a solenidade das Panateneias, criada pelo rei Teseu, até aos jogos
gímnicos, corridas de cavalos, regatas e concursos de dança e de música. De
quatro em quatro anos, uma imponente procissão, composta por sacerdotes,
magistrados, anciãos carregando ramos de oliveiras, jovens a cavalo e,
sobretudo, raparigas transportando cestas atravessava a cidade. Depois, era
oferecida à estátua da deusa uma capa de linho confeccionada pelos mais hábeis
artífices. No século v a. C., Atena possuía na Acrópole três templos,
53

Atena
um dos quais, edificado por ordem de Péricies, foi conhecido com o nome de
Parténon.
O Pártenon é o templo dedicado à deusa virgem (parthènos), pois Atena representa
uma castidade absoluta e feroz. (Alguns autores aproximam do nome Palas a
palavra grega pallax, que significa, igualmente, a jovem.) Hefesto apaixonou-se
um dia pela deusa e tentou víolá-la. Mas foi energicamente repelido e a semente
do seu desejo acabou por impregnar a terra. Esta, fecundada deste modo, deu à
luz o divino Erictónio, que Atena aceitou educar e que veio a ser rei de Atenas,
criando aí o culto da deusa.
Assim, qualquer atentado ao pudor de Atena era punido cruelmente. Foi o que
aconteceu com o tebano Tírésias, que certo dia olhou a deusa, enquanto esta se
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banhava. Mas Atena vingou-se, imediatamente, cegando-o. Depois, sensibilizada e
acreditando na inocência da sua vítima, conferiu-lhe o dom da "dupla visão".
Atena não era, somente, a protectora de Atenas. Várias cidades do mundo heiénico
estavam sob a sua protecção. Com efeito, a sua eficácia na paz, assim como na
guerra, as virtudes e as qualidades que ela encarnava, com destaque para a
inteligência e a sabedoria, representavam para os Gregos os aspectos mais
positivos da sua civilização.
A Acrópole de Atenas
54

Atenas
A deusa era descrita como uma bela e altiva jovem de olhos brilhantes, olhos
"esverdeados" diz-se muitas vezes, olhos de coruja, diz Homero, que lhe
permitiam atravessar as trevas.
A Atena grega foi assimilada à deusa Minerva dos Etruscos, como ela uma deusa da
inteligência (a mesma raiz do latim mens). Por isso, ela era a menos itálica das
divindades da tríade capitolina (Júpiter-Juno-Minerva), tão venerada pelos
Romanos.
Os escultores e os pintores representam Atena vestida, geralmente estreitada em
dignas roupagens e cingida com a égide, sobre a qual está chapeada a terrível
cabeça da Górgona, que petrificava aqueles que ousassem olhá-la. Ela tem nas
mãos a lança e o escudo e apresenta, algumas vezes, na mão esquerda, uma estátua
alada. Foi assim que a representou Fídias na sua monumental efígie, recoberta de
ouro e de marfim. Os animais que acompanham Atena são a coruja e a serpente
(representando Erictónio. Este tipo de figuração é muito utilizada nas
divindades ctónicas).
Atenas

MI
Depois do dilúvio, que transformou o país num verdadeiro deserto, a Ática foi
governada pelo rei Acteo, a quem sucedeu o seu genro Cécrops, filho da Terra,
que deu a este lugar o nome de Cecrópia, fundando aí cerca de doze cidades.
Durante o seu reinado, Atena e Posídon disputaram entre si a tutela deste lugar.
O deus do mar acreditou que ganhava o voto de Cécrops, oferecendo aos habitantes
o cavalo, que ele fez nascer com um golpe de tridente sobre a colina da
Acrópole. Mas Atena, por seu lado, fez brotar uma oliveira nesta pedra árida, e
foi ela que ganhou os favores do rei. Os deuses, consultados, ratificaram a sua
escolha.
55

Atenas
CÉCROPS 110
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Deucalião
Hefesto
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@CÉCROpS + Aglauro
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PANDíON 110

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Os vinte reis que governaram a Ática
Posídon
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1 (L') ME LA NTOS
III)CODROS
56
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA

Atenas
Os primeiros reis Cécrops deixou a lembrança de um rei sábio e pacífico. Foi ele
que ensinou a arte da escrita aos seus compatriotas. Como o seu filho morreu
jovem e não deixou descendência, sucedeu-lhe Cránao, um outro filho de Geia.
Este deu o seu próprio nome à capital, Cráriae, e o nome de uma das suas filhas,
Átis, ao conjunto da região, que desde então foi conhecida como Ática.
Uma outra filha de Cránao, Cráriae, tinha desposado um filho de Deucalião,
Anfiction. Este destronou o seu sogro e ocupou o poder, sendo mais tarde
expulso, por sua vez, por Erictónio, nascido no tempo de Cécrops, do desejo de
Hefesto por Atena.
Erictónio e os seus descendentes Erictónio introduziu na Ática o uso da moeda e
instaurou na Acrópole as festas em honra de Atena. Sucedeu-lhe o seu filho,
Pandíon, e foi durante o seu reinado que, segundo a tradição, Deméter veio para
a Ática.
Pandíon teve dois filhos: Erecteu, que recebeu o trono em herança e Butes, que
se tornou o sacerdote de Atena e de Posídon. Erecteu, apesar da sua piedade e da
sua sabedoria, conheceu um fim trágico. No decurso de uma guerra que opôs os
habitantes da sua capital aos de Elêusis, a cidade vizinha, Erecteu só conseguiu
a vitória mediante o sacrifício de uma das suas ilhas. Após este acontecimento,
as irmãs da vítima suicidaram-se. Mas também um filho de Posídon, aliado dos
eleusianos, foi morto em combate e então Zeus, a pedido de seu irmão, fuiminou o
infeliz Erecteu.
Este foi substituído no trono pelo seu filho, Cécrops 11 que, por sua vez, foi
substituído por Pandíon 11. Este acabou por ser deposto após uma revolução
organizada pelos seus primos, mas os seus filhos restabeleceram os seus direitos
pela força das armas, e o mais velho, Egeu, foi investido como rei.
Certo dia, Egeu matou Andrógeo, filho do rei de Creta, Minos. Este invadiu a
Ática e obrigou o rei a pagar um pesado tributo: todos os nove anos, cinquenta
rapazes e cinquenta raparigas cretenses deviam ser dados como alimento ao
Minotauro, fruto monstruoso dos amores da rainha Pasífae com um touro. Teseu,
filho de Egeu, decidiu fazer parte de um destes contingentes, a fim de vencer o
monstro, Ele conseguiu levar o seu empreendimento a bom termo, mas esqueceu a
promessa feita a seu pai, de içar uma vela branca caso saísse vitorioso. Egeu,
verificando que o navio apresentava a mesma
57

Atenas
vela fúnebre que hasteara à partida, atirou-se ao mar que, a partir de então,
oassou a ter o seu nome.
Teseu E assim, Teseu sucedeu a seu pai. A sua primeira grande preocupação foi
reunir e organizar numa mesma cidade várias aglomerações vizinhas. Depois, deu a
este corpo vivificado o nome de Atenas, em homenagem à deusa Atena, cujo culto
ele desenvolveu, com a criação da festa das Panateias, símbolo de unidade
religiosa e política. Simultaneamente, lançou as bases de uma estrutura social
de tipo democrático.
Teseu acolheu com benevolência Édipo, banido de Tebas, e permitiu-lhe acabar os
seus dias num burgo de Atenas, Colono. O oráculo tinha anunciado que a terra que
abrigasse o seu túmulo seria abençoada pelos deuses, por toda a eternidade.
Foi durante o reinado de Teseu que aconteceu a guerra dos Sete Chefes contra
Tebas, e igualmente a expedição das Amazonas contra Tebas, a fim de vingar a sua
irmã Antíope, seduzida por Teseu. Todos estes episódios tiveram um fim
proveitoso para o rei de Atenas.
Entretanto, Teseu, de combinação com o seu amigo Pirítoo, tinha desenvolvido o
presunçoso projecto de escolher uma esposa de sangue divino, partindo assim à
conquista de Helena de Esparta e da deusa Perséfone. Durante a sua ausência, os
irmãos de Helena, Castor e Pólux, invadiram a Ática e colocaram no trono de
Atenas um descendente de Erecteu, Menesteu, que recebeu o Apolo de todos os
adversários das reformas de Teseu.
Os descendentes de Teseu Entretanto Teseu, depois de um certo tempo de cativeiro
nos Infernos, encontrou a morte. Os seus dois filhos, Ácamas e Demofonte
participaram, entretanto, na guerra de Tróia, para a qual Menesteu armou
cinquenta navios. À morte do rei, os dois irmãos partilharam entre si o trono de
Atenas. O filho de Demofonte, Oxynto, sucedeu-lhes e a este sucedeu, por sua
vez, o seu filho mais velho, Afeidas. Mas este último foi morto e substituído
pelo seu irmão Timetes.
Entretanto, a guerra entre Atenas e Tebas parecia não ter fim. Então foi
decidido que os dois reis deveriam combater, um contra o outro, a fim de se
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encontrar um vencedor. Mas Timetes era cobarde e, para fugir à situação,
publicou que deixaria o trono ao cidadão de Atenas que aceitasse combater o
58

Átis
rei de Tebas. Imediatamente Melanto se apresentou e, beneficiando da intervenção
de Dioniso, venceu o combate e ganhou o trono. Mais tarde, foi construído um
santuário ao deus que tinha facilitado a vitória de Atenas.
O filho de Melanto, Codro, foi o seu sucessor e o herdeiro da sua coragem.
Assim, quando Atenas foi atacada pelos povos do Peloponeso, o oráculo revelou
que estes só abandonariam a cidade quando o rei fosse morto pelo inimigo. Então,
Codro decidiu sacrificar-se pela sua cidade. Transformou-se em mendigo e
aproximou-se das linhas adversárias. Ao chegar aí, desafiou um soldado que o
matou. Ao aperceberem-se de @uem ele era, os Peloponesos retiraram-se.
O acto heróico de Codro suscitou tal admiração que ninguém foi considerado digno
de lhe suceder no trono. Os atenienses aboliram então a realeza e decidiram
eleger um chefe. O primeiro foi o filho mais velho de Codro, Medão.
E estava assim criado o "arcontato". De início, uma magistratura para toda a
vida, mais tarde limitada a um período de dez anos e depois, finalmente,
repartida entre nove cabeças, para um exercício anual. Simultaneamente, a
história substituiu a lenda.
Atis cus,'

o@
Segundo Ovídio, Cíbele, a grande deusa frigia, apaixonou-se, castamente, pelo
jovem e belo pastor Átis, tornando-o guardião do seu templo e impondo-lhe a
virgindade. Mas um dia Átis apaixonou-se por uma ninfa, desposando-a e violando
assim o seu voto. Cíbele decidiu então vingar-se, enlouquecendo o pobre pastor
que, num acesso de loucura, se mutilou. Arrependida, Cíbele ressuscitou Átis sob
a forma de um pinheiro.
Os Frígios, e mais tarde os Gregos e os Romanos, adoraram Átis, como gênio da
vegetação, associando o seu culto ao de Cíbele. Assim, todos os anos, na
Primavera, eram celebradas grandes festas populares que comemoravam a sua morte
e a sua ressurreição.
A ópera Atys de Luily, libreto de Quinault (1676), inspira-se no relato de
Ovídio.
59

Atlântida
Atlântida
A Atlântida era uma ilha situada no oceano "Atlântico", na proximidade das
Colunas de Hércules (estreito de Gibraltar). Era de uma riqueza fabulosa: as
suas minas encerravam ouro, cobre, ferro e também oricalco, metal cujo brilho
rivalizava com o do fogo. Esta ilha tinha sido dada em herança a Posídon.
Este apaixonou-se por uma das suas súbditas, uma órfã chamada Clito, que lhe deu
cinco pares de gêmeos. O mais velho chamou-se Atlas e tornou-se o senhor supremo
da ilha. Os seus descendentes transmitiram o trono de pai para filho.
Os "Atlantes" construíram cidades magníficas, dotadas de todas as conquistas do
urbanismo. Poderiam ter vivido em paz durante muito tempo, mas sucumbiram à
tentação de submeter o resto do mundo, sendo vencidos pelos atenienses e depois
pelas Amazonas de Mirina, a filha de Teucer.
Entretanto a ilha desapareceu em algumas horas, em meados do 11 Milénio. Depois
de Platão, que consagrou à Atlântida um dos seus últimos diálogos, o Crítias,
sábios, poetas e romancistas (por exemplo, Pierre Benôit: A Atlântida, 1919)
foram tocados pelo enigma do continente fantasma. Uns viram-no como uma simples
alegoria mitológica; outros, esforçando-se por ajustar a lenda a uma realidade
geográfica e histórica, situaram a ilha misteriosa nos pontos mais diversos do
globo, quando não sugerem que ela poderia ter sido um planeta de uma outra
galáxia.
Os geólogos de hoje, para quem a Atlântida não é senão uma ficção saída da
fábula, situam-na no actual mar de Creta, ao sul do arquipélago das Cíciades.
Eles afirmam que o continente foi engolido, depois da maior erupção vulcânica
que a memória humana registou. O vulcão responsável teria sido o do monte Téra,
que constitui hoje a ilha de Santorino. Eles acrescentam, ainda, que se os
historiadores estudassem a súbita extinção da brilhante civilização minóica,
concluiriam que ela não tinha desaparecido devido a invasões, mas antes como
consequência de um gigantesco maremoto, que teria acompanhado o sismo e que, ao
submergir Creta, teria destruído toda a vida à sua superfície.
60
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
Atreu
Atlas
O gigante Atlas, como os seus irmãos Prometeu e Epimeteu, é filho do Titã Jápeto
e da ninfa Clímene, filha do Oceano. Participou na guerra que opôs os Gigantes
aos Olímpicos e que se saldou por uma derrota. Por isso, foi condenado por Zeus
a carregar o céu às suas costas.
A sua morada está situada nas extremidades ocidentais da terra. Heródoto conta
que Perseu, tendo regressado após ter matado Medusa, apresentou a sua cabeça ao
gigante que, petrificado, foi transformado numa montanha.
Atlas é apresentado como o pai das Plêiades e das Híades, assim como das
Hespérides, por vezes.
Não devemos confundir o gigante Atlas com o seu homónimo, filho de Posídon, que
reinará na Atlântida.
No museu nacional de Nápoles encontramos uma célebre estátua antiga que
representa Alias carregando o céu.
Atreu
Atreu é um dos filhos do Frígio Pélops, que se tornou rei da Élide, e da rainha
Hipodâmia. Mas Pélops tinha tido um filho fora do casamento e então Hipodâmia
convenceu os seus filhos a matá-lo. Atreu e o seu irmão gêmeo Tiestes
assassinaram Crisipo e, como consequência, foram banidos juntamente com sua mãe
do reino de Pélops.
A família refugiou-se em Argos, onde reinava Esténelo, genro de Pélops. Certo
dia, o irmão de Esténelo, rei de Micenas, foi morto acidentalmente pelo seu
genro Anfitrião. Esténeio decidiu então partir e confiar a cidade e o seu
território a Atreu e a Tiestes.
Entretanto, Atreu descobriu um dia, entre o seu rebanho, um carneiro que tinha
nascido com um velo de ouro. E embora tivesse feito o voto de imolar a Ártemis o
seu mais belo carneiro, conservou o animal e escondeu o velo num cofre.
Entretanto, Atreu casou com uma neta de Minos, rei de Creta,
61

Atreu
chamada Aérope, tendo tido dois filhos, Agamémnon e Menelau, e uma filha. Mas
Aérope deixou-se seduzir pelo seu cunhado Tiestes e ofereceu-lhe, secretamente,
o velo de ouro.
Mais tarde, quando o sucessor de Esténelo no trono de Argos, o seu filho
Eristeu, foi massacrado pelos filhos de Héracles, o oráculo aconselhou os
habitantes a escolher um sucessor, entre os filhos de Pélops.
Tiestes sugeriu então que se escolhesse para rei aquele que pudesse apresentar
uma certa preferência divina, por exemplo, aquele que tivesse encontrado no seu
rebanho um carneiro com um velo de ouro! Atreu aceitou imediatamente a aposta...
mas Tiestes venceu-o. Então Zeus enviou Hermes junto de Atreu, a fim de lhe
sugerir a proposta de uma contra-prova. Atreu receberia o trono de Argos se o
Sol, em determinado dia, se pusesse a Oriente!
Tiestes aceitou, mas o prodígio aconteceu e, assim, Atreu conquistou o poder. O
seu primeiro gesto consistiu em expulsar o seu irmão, unindo assim sob o seu
ceptro as cidades de Argos e de Micenas.
Entretanto, Atreu procurou saber em que circunstâncias Tiestes se tinha
apoderado do velo de ouro, descobrindo finalmente a traição dos dois amantes.
Então, com o pretexto de se reconciliar com o seu irmão, chamou-o e ofereceu um
banquete em sua honra, dando-lhe como refeição a carne dos seus filhos, depois
de mortos e cortados em bocados. O próprio sol, horrorizado, recuou no seu
percurso, mas Atreu só no fim do festim revelou a terrível verdade a seu irmão,
banindo-o definitivamente dos seus Estados e atirando ao mar Aérope, a esposa
infiel.
Tiestes refugiou-se em Siciona, na Argólida, onde um oráculo lhe revelou que ele
seria vingado por um filho, nascido de uma relação incestuosa com a sua própria
filha, Pelápia. Assim, uma noite Tiestes violou a jovem sem se deixar
reconhecer. Mas esta roubou-lhe uma espada, que conservou como a única prova
capaz de identificar o seu agressor. Mais tarde, Pelópia deu à luz um filho que
abandonou, mas este foi recolhido pelos pastores que lhe deram o nome de Egisto
(da palavra grega que significa cabra).
Entretanto, Pelópia casou com o seu tio Atreu e este mandou procurar a criança,
educando-a no palácio juntamente com Agamémnon e Menelau. Quando Egisto cresceu,
Atreu, que não tinha esquecido o seu ódio ao irmão, confiou-lhe a missão de ir
procurar Tiestes. O jovem obedeceu e trouxe para Argos aquele que ninguém sabia
ser seu pai.
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Atreu
Atreu ordenou então a Egisto que matasse o seu prisioneiro, e este pegou na
espada que a sua mãe lhe tinha dado e que era aquela que ela tinha roubado a seu
pai. Mas quando Tiestes reconheceu a sua espada, chamou Pelópia e revelou-lhe o
seu segredo. Esta, desfalecida de dor, espetou a espada no próprio coração.
Então, Egisto retirou a arma ensanguentada do corpo de sua mãe, e matou Atreu.
Tiestes sucedeu, deste modo, a seu irmão no trono de Argos e de Micenas. Quanto
aos filhos de Atreu, Agamérrmon e Menelau, foram expulsos, indo procurar asilo
em Esparta, na corte do rei Tíndaro. Foi aí que Menelau conheceu e desposou a
princesa Helena.
A sangrenta tragédia dos Átridas, que se manteve durante geraçoes e gerações,
não estava senão no seu início.
63

Baal
O nome do deus fenício Baal significa "Senhor". Assim, cada localidade da
Fenícia possuía o seu "baal", deus do espaço, deus solar ou deus marinho. Baal
também foi adorado pelos Cartagineses (sendo confundido com Cronos, o devorador
dos recém-nascidos) e conquistou, mais tarde, toda a bacia mediterrânica, devido
à incorporação dos soldados sírios no exército romano. No século iii d. C., o
imperador Heliogábalo tentou fazer reconhecer Baal de Éfeso como o deus supremo
do Império.
Belerofonte
Hipono,o, homem de grande beleza e rara coragem, era filho de Posídon e da
rainha Efira (futura Corinto), esposa do rei Glauco (que, por sua vez, era filho
de Sísifo).
Um dia, quando Hiponoo passeava junto à fonte Pirene, surpreendeu o cavalo alado
Pégaso a matar a sede. Então, graças a um freio mágico que lhe tinha sido
oferecido por Atena, prendeu-o.
Entretanto, o trono de Corinto tinha sido usurpado por um certo Belero, que o
príncipe irá matar, passando a usar a partir desse momento o nome de Belerofonte
(assassino de Belero). Segundo a lei, Belerofonte teria de sofrer um exílio
durante um certo tempo, a fim de expiar este crime.

r g u-se então para a
corte de Tiríntio, onde reinava o rei Preto. Acontece que a rainha Estenebeia
(ou Anteia, segundo Homero), esposa de Preto, se apaixonou por Belerofonte. Mas
este repeliu-a. No entanto ela, temendo ser descoberta, de-
65

Belerofonte
nunciou-o ao seu marido, dizendo que o príncipe tinha tentado seduzi-ia. O rei
acreditou nas suas palavras, mas não querendo violar as leis da hospitalidade
(que Belerofonte tinha violado, segundo sua mulher), enviou o jovem, com uma
mensagem, ao seu sogro, o rei da Lícia, para que este se encarregasse da punição
do seu hóspede.
íobates, rei da Lícia, em vez de matar o jovem, como Preto lhe pedira, preferiu
sujeitá-lo a uma prova, na qual ele obrigatoriamente encontraria a morte, Essa
prova consistia em libertar o país de Quimera, uma criatura fabulosa, nascida da
relação entre o monstruoso gigante Tífon e a ninfa com corpo de víbora Equicina.
Quimera apresentava-se com a forma compósita de um leão, uma cabra e um dragão
(Homero), cuspia fogo e devorava os rebanhos. Belerofonte lembrou-se então de
utilizar os serviços de Pégaso, Montou no cavalo alado e percorreu o céu,
repelindo o monstro e abatendo-se sobre ele em voo picado. Quimera tentou
resistir, cuspindo as suas chamas, mas Belerofonte selou-lhe a boca com uma bola
de chumbo, asfixiando-o.
O herói triunfou, ainda, noutras provas imaginadas pelo rei da Lícia: venceu o
povo selvagem dos Sólimos, massacrou as Amazonas e fez abortar uma emboscada
urdida pelos melhores guerreiros do país, que ele matou um a um. Reconhecendo o
valor excepcional de Belerofonte, íobates, rei da Lícia, ofereceu-lhe uma das
suas filhas em casamento e simultaneamente metade do seu reino.
Como Belerofonte regressou a Tiríntio, a tradição conta que a rainha que o tinha
caluniado e que era irmã da sua mulher, se suicidou - ou que esta, tendo querido
fugir, utilizou o cavalo Pégaso, que a sacudiu da sela, sobre o mar, provocando
a sua queda no meio das ondas.
Belerofonte teve dois filhos, lsandro e Hipóloco, e uma filha, Laodamia. Esta,
seduzida por Zeus, teria dado à luz o herói Sarpédon (que comandou um
contingente de Lícios, ao lado dos Troianos, tendo perecido sobre as muralhas de
Tróia, como o seu primo Glauco li, filho de Hipóloco).
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Belerofonte não conseguiu, no entanto, escapar à tentação da vaidade. E assim,
um certo dia, montado no cavalo Pégaso, quis atingir o Olimpo, a fim de se
tornar imortal. Mas Zeus derrubou-o da cela, fazendo-o cair sobre a terra, onde
permanecerá errante e paralítico "consumindo o seu coração, diz Homero, e
evitando os caminhos dos hornens". l_aodarnia também pereceu às mãos de Ártemis
e lsandro às mãos de Ares.
66

Beoto
Belerofonte montando Pégaso, figura frequentemente nas moedas antigas. Luily
criou uma ópera com este título (1679).
Beoto
Beoto é geralmente apresentado como u@n dos filhos que Posídon deu a
Arne (também chamada Méianipe em duas tragédias de Eurípides, entretanto
perdidas) e como o irmão gêmeo de Éolo, o futuro rei dos ventos.
As duas crianças foram expostas à nascença, por ordem de seu avô, o primeiro
Eolo, rei da Tessália, pai de Arne. Mas foram alimentadas por uma vaca e
recolhidas, mais tarde, pelos pastores. Estes enviaram-nas então a Teano, rainha
de Metaponto que, temendo ser repudiada por esterilidade, as apresentou a seu
marido, o rei Metaponto, como se se tratasse dos seus próprios filhos.
Acontece que, alguns anos mais tarde, a rainha deu à luz duas crianças e,
perante esta nova situação, começou a sonhar com o desaparecimento dos
"intrusos". Quando os seus filhos já eram adolescentes, a rainha confiou-lhes o
seu segredo, incitando-os a matar os seus dois irmãos falsos.
O crime devia ter lugar no decurso de uma caçada, enquanto Metaponto prestava as
suas orações a Ártemis. Mas os acontecimentos não se desenrolaram segundo os
planos da rainha. Posídon, que protegia os seus filhos, inverteu a situação e
foram os filhos de Teano que encontraram a morte. Ao mesmo tempo, o deus
revelou-se aos jovens e declarou-lhes que a sua verdadeira mãe se encontrava
prisioneira, quase cega, na corte do rei Éolo.
Beoto e Éolo 11 precipitaram-se para a Grécia, a fim de a libertar. Posídon
deu-lhe de novo a visão. E então os dois rapazes regressaram com Arne ao palácio
de Metaponto. Teano foi condenada por alta traição e o rei desposou, em segundas
núpcias, Arrie, a mãe de Beoto e de Éolo li.
Numa outra versão da lenda, Arne teria sido confiada por seu pai ao rei
Metaponto que, por conselho de um oráculo, teria adoptado os seus filhos,
expulsando em seguida a sua esposa, Síris, a fim de poder contrair segundas
67

Boa Deusa
núpcias com Arne. Quando os dois rapazes já eram adultos, estalou uma revolta na
corte do rei Metaponto e os gêmeos apoderaram-se do trono. No entanto, não
puderam gozar os privilégios do poder, pois sua mãe obrigou-os a matar Siris,
que se encontrava retirada numa ilha com o seu nome, situada no golfo de
Tarento. Eles cumpriram e foram obrigados a exilar-se.
Beoto refugiou-se na Grécia continental, exactamente na região que, mais tarde,
terá o seu nome, a Beócia.
Boa Deusa
Os Romanos, ou pelo menos as Romanas, adoravam uma divindade da fecundidade com
o nome de Boa Deusa (Bona Dea), cujo santuário se encontrava no monte Aventino.
A Boa Deusa foi assimilada à Fauna (cujo nome significa favorável), apresentada
por alguns como a filha do rei Fauno (e a lenda conta que depois de a ter
embriagado, ele tê-la-ia violado, sob a forma de uma serpente) e, por outros,
como a irmã e a esposa do mesmo rei (uma senhora de hábitos reservados que um
dia se teria tentado com um pichei de vinho, sendo depois açoitada até à morte,
por seu marido).
Uma certa tradição conta que Hércules se teria apaixonado por Fauna e a teria
tornado mãe de Latino, futuro rei do Lácio.
68
Cadmo

MI,
Cadmo é o filho de Agenor, rei de Tiro, e o irmão de Europa que Zeus seduziu,
sob a forma de um touro.
Quando a sua filha desapareceu, Agenor enviou a sua esposa e todos os seus
filhos à procura de Europa. No entanto, as buscas destes não apresentaram
resultados e então Cadmo decidiu consultar o oráculo de Delfos. Este
aconselhou-o a renunciar à sua missão e a fundar uma cidade no lugar em que
encontrasse uma vaca prostrada pela fadiga.
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
O oráculo cumpriu-se quando ele atravessava a Beócia. Cadmo, resolvido a
oferecer em sacrifício a Atena a vaca que se deitara na sua frente, enviou os
seus companheiros de viagem à procura de água, numa fonte vizinha. Mas um
dragão, nascido de Ares, que guardava a fonte, dizimou o grupo. Cadmo correu em
socorro dos seus amigos e matou o monstro. Então, a deusa Atena apareceu-lhe e
aconselhou-o a semear os dentes do dragão. Passado algum tempo, brotaram deste
solo guerreiros armados, terrificantes. Cadmo procurou apedrejá-los e eles, em
pânico, acabaram por se matar uns aos outros, sobrevivendo apenas cinco. Um
destes desposará, mais tarde, uma filha de Cadm o, Agave.
Para expiar a morte do dragão, o herói foi obrigado a passar oito anos ao
serviço de Ares. Depois disso, fundou a cidade de Tebas, com a ajuda de Atena,
no local indicado pelo oráculo. E Zeus deu-lhe como esposa a filha de Ares e de
Afrodite, Harmonia (ou Hermíone).
As núpcias de Cadmo e de Harmonia foram celebradas com grande pompa, na presença
dos deuses. As Cárites fizeram o vestido da noiva e Hefesto forjou-lhe o mais
maravilhoso colar de ouro.
69

Calcas
Cadmo e Harmonia tiveram vários filhos. De entre eles podemos destacar Sérnele,
que será a mãe de Dioniso, e Polidoro, antepassado de Édipo. Quando
envelheceram, Cadmo e Harmonia deixaram o trono ao seu neto Penteu, filho de
Agave, e instalaram-se na Ilíria, cujo trono acabaram por receber, graças a
terem conduzido à vitória os seus novos compatriotas.
Na hora da morte, Cadmo e Harmoniaforam transformados em serpentes.
O casal e a sua lenda inspiraram a primeira ópera francesa, Cadmus et Hermione
de LuIly, libreto de Quinault (1673).
Calcas
Calcas é filho de Testor que, por sua vez, é filho e sacerdote de Apolo. Este
dotou o jovem com o poder profético e, assim, Calcas tornou-se adivinho em
Micenas e foi escolhido pelos Gregos como adivinho oficial da guerra contra
Tróia. Foi ele que revelou que Tróia não seria tomada sem a ajuda de Aquiles e
que aconselhou o sacrifício de Ifigénia, a fim de acalmar a cólera de Ártemis.
Ele soube ainda convencer os Gregos a apoderarem-se de Heleno, filho do rei
trojano Príamo, que também praticava a adivinhação e deveria comunicar as
condições necessárias para a queda de Tróia. Calcas fez ainda parte dos
guerreiros que se esconderam no cavalo de madeira.
O oráculo tinha previsto que Calcas morreria quando encontrasse um adivinho mais
sábio do que ele. Isto aconteceu após o regresso da guerra, Certo dia, Calcas
deparou com Mopso, o neto do adivinho tebano Tirésias. Este revelou-se mais
experiente do que ele e Calcas morreu de desgosto.
Calisto
Calisto é apresentada como uma ninfa do cortejo de Ártemis (embora noutras
fontes ela surja como filha de Licáon, rei da Arcádia), que tinha feito
70

Caos
voto de castidade. Mas a sua extraordinária beleza acaba por seduzir o senhor
dos deuses, que decide conquistá-la. Para o efeito, certo dia em que Calisto se
encontrava deitada num bosque, Zeus apresentou-se-lhe com os traços de Ártemis.
A ninfa acolheu-o sem desconfiança e quando esta se apercebeu do embuste, já o
mal estava feito.
Calisto ficou grávida, mas tentou dissimular o seu estado a Ártemis. Acontece
que, certo dia, a deusa surpreendeu-a no banho e descobriu a verdade, reagindo
violentamente. Entretanto Zeus, vigilante, transformou Calisto numa ursa, para
que ela pudesse escapar à cólera da deusa.
Mas Ártemis, no decurso de uma caçada, disparou contra ela uma flecha. A ursa,
ferida, deu à luz um filho, Árcade, que Hermes veio salvar por ordem de Zeus e
que, mais tarde, deu o seu nome à Arcádia.
Segundo certas tradições, Calisto teria errado, desde então, pela montanha, até
ao dia em que encontrou Árcade, já adulto e rei do seu país, quando este se
dedicava aos prazeres da caça. O jovem preparava-se para derrubar a ursa com uma
flecha, quando Zeus interveio, transformando Árcade num guarda de ursos e
reunindo, finalmente, a mãe e o filho na abóbada celeste, ao criar a constelação
da grande Ursa. A vingativa Hera conseguiu, no entanto, que Posídon lhe
prometesse que a Ursa (constelação boreal) seria impedida de se deitar no
horizonte do oceano.
As sacerdotisas do culto de Ártemis foram conhecidas em diversos lugares como
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
"pequenas ursas" e cumpria-se mesmo um ritual que transformava, simbolicamente,
as jovens consagradas à deusa caçadora, em ursas.
Esquecendo o brilhante destino de Calisto, encontramos na Arcádia o túmulo onde
era suposto repousar o seu corpo, perto de um santuário dedicado a
Ártemis-Calisto (A muito Bela).
Caos (Cf. Origem do Universo)
O seu nome deriva do verbo grego chao, que significa "estar aberto". Assim, o
caos significa, literalmente, a vida infinita, anterior à criação e contendo em
si todas as possibilidades. Entretanto, por confusão com o verbo chéo
(derramar), pode-se igualmente considerar o Caos como sendo a matéria inerte,
derramada no espaço.
71

Caríbdis
Embora seja um simples princípio cósmico e não tenha o carácter de uma
divindade, o Caos vai ser, todavia, personificado na Teogonia de Hesíodo, que
lhe confere a paternidade de Erebo - a obscuridade infernal - e a Noite.
Virgílio também nos apresenta Eneu, quando desce aos Infernos, dirigindo uma
oração aos "deuses soberanos do império das almas", entre os quais cita Caos.
Os adeptos do Orfismo atribuem ao acasalamento do Caos infinito com Éter
(finita), o aparecimento do ovo cósmico de onde terá saído o primeiro ser.
Certas comparações tardias permitiram, na época romana, identificar o Caos,
divindade primordial, com Jano, deus das origens. Os Fastos de Ovídio apresentam
as suas palavras: "Nessa época longínqua, o ar límpido e os outros três
elementos, o fogo, a água e a terra formavam uma única massa. Mas quando esta
massa se separou, então eu, que não era senão uma bola informe, assumi um rosto
e membros dignos de um deus. No entanto, os traços da minha aparência, outrora
confusa, parecem manter-se, pois ainda hoje a minha face anterior e a minha face
posterior apresentam o mesmo aspecto."
Caríbdis

m
Caríbdis, monstro-fêmea nascido da Terra e de Posídon, vivia num rochedo na
Sicília, dominando o estreito de Messina. Certo dia, quando Héracies conduzia
para a Grécia as manadas roubadas ao gigante Gérion, passou neste lugar e
Caríbdis aproveitou para devorar um bom número de animais. Vigilante, Zeus
castigou-a, atirando-a ao mar.
Desde então, Caríbdis passou a atrair todos os navios que navegavam naquela
zona, para depois devorar os seus ocupantes.
Acontece que, no outro lado do estreito, reinava um outro monstro, Cila, jovem
mulher nascida do deus marinho Fórcis que a mágica Circe, por inveja, tinha
ridiculamente vestido com um cinto de cães ferozes. Assim, quando os marinheiros
evitavam Caríbdis, não escapavam a Cilal.
' Daí a expressão: cair de Caríbdis a Cila, ou seja, de mal a pior.
72

Cassiopeia
Depois de Héracies ter sofrido os danos que Caríbdis infligiu à sua manada, ele
foi forçado a confrontar-se com Cila, acabando por matá-la. No entanto, o deus
Fórcis ressuscitou a sua filha, que atormentou os navegadores, pela eternidade.
Cárites
Apresentadas como filhas de Hélio, o Sol, ou de Zeus, as três "Graças" (é este o
sentido da palavra Cárites) são tradicionalmente chamadas: Agiaia (a Brilhante),
Tália (aquela que faz florescer) e Eufrósina (aquela que alegra o coração),
traduzindo assim o seu papel activo e benéfico no funcionamento da natureza.
Elas residem no Olimpo e fazem parte do cortejo de Afrodite a quem prestam todos
os cuidados, velando pela sua toilette e pelos seus prazeres. As Cárites também
acompanham, muitas vezes, Atena no exercício das suas atribuições pacíficas
(trabalhos artísticos e operações espirituais). Elas formam, igualmente, com as
Musas, o cortejo de Apolo, na sua qualidade de deus da poesia e da música.
Vemos geralmente as Cárites representadas, depois do séc. iv a. C., como um
grupo de três jovens, nuas, duas delas viradas para a terceira e agarrando-se
pelos ombros.
Cassiopeia
Inicialmente amante de Zeus, Cassiopeia desposou, mais tarde, o rei da Etiópia,
Cefeu.
A presunção e a vaidade levaram-na, contudo, a desencadear o ódio dos deuses,
sobretudo das Nereides, a quem ela tivera a audácia de se comparar. Assim, estas
pediram a Posídon que inundasse o reino de Cassiopeia e enviasse, em seguida, um
monstro marinho para o local submerso.
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
73

Cécrops
Perante esta situação, Cefeu consultou o oráculo divino. Este revelou-lhe que a
devastação só seria conjurada após o sacrifício da filha do casal real,
Andrómeda. Então, esta foi exposta, acorrentada a um rochedo batido pelas ondas,
ao largo de Jafa (cidade construída por Cefeu e cujo nome, lopeia, derivou do
nome de Cassiopeia). Mais tarde, o herói Perseu, filho de Zeus, salvou e
desposou a jovem princesa.
Quanto a Cassiopeia, foi transformada por Zeus em constelação, assim como Cefeu,
Andrómeda e o próprio Perseu.
Cécrops
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%@I;" M Ili;11ÍRU
1Nascido da Terra (e por isso representado com a parte inferior do corpo em forma

de serpente), Cécrops desposou a filha do primeiro rei da Ática, tornando-se seu
sucessor. Durante o seu reinado, Atena e Posídon disputaram a posse do seu país
e Cécrops influenciou a decisão dos imortais, a favor da deusa.
Príncipe pacífico, Cécrops ensinou os seus súbditos a construir uma cidade e a
sepultar os mortos. Diz-se também que lhes ensinou a escrita e teria tido a
iniciativa do primeiro recenseamento,
Atena confiou às três filhas de Cécrops uma missão misteriosa. Elas teriam de
manter fechado um cesto onde tinha sido escondido o pequeno Erictónio, fruto do
desejo violento que a deusa virgem inspirara a Hefesto. Mas a curiosidade foi
mais forte: as jovens abriram o cesto e eis que, junto à criança, lhes apareceu
uma serpente (a menos que esta fosse a própria criança, nascida da Terra, e
portanto com o corpo terminando em forma de serpente). Aterrorizadas, as três
jovens atiraram-se do alto da Acrópole.
Erictónio ocupou, por sua vez, o trono de Atenas.
Ufalo
Hermes apaixonou-se por uma filha de Cécrops, primeiro rei de Atenas, e esta
deu-lhe um filho, Céfalo (outros autores ligam-no, pelo seu pai Díon e a sua
mãe, à raça de Deucalião).
74

Waio
Céfalo desposou Prócris, filha de Erecteu (ele, também, rei de Atenas), a quem
amava perdidamente... Mas um dia, quando o jovem caçava no Himeto, foi visto
pela Aurora, Eos, que, seduzida pela sua surpreendente beleza, o raptou,
conduzindo-o para a Síria onde, segundo uma versão da lenda, nasceu o filho
deste encontro, Faetonte.
Mas Céfalo não conseguiu esquecer Prócris. Então, Eos, cheia de inveja, insuflou
o ciúme em Céfalo, incitando-o a pôr à prova a fidelidade daquela que ele
teimava em amar.
O jovem regressou assim à Ática, disfarçado, e apresentou-se à sua esposa,
propondo-lhe em troca dos seus favores, jóias de grande valor. Prócris resistiu
durante muito tempo, mas a avidez acabou por vencê-la e ela submeteu-se aos
desejos de Céfalo. Depois, envergonhada, fugiu, perseguida pelas maldições de
seu marido, indo refugiar-se junto de Minos, rei de Creta. Mas este apaixonou-se
pela jovem e tentou seduzi-ia. Acontece que a sua mulher Pasífae lhe deitou um
feitiço e, assim, sempre que Minos sentia um desejo adúltero, ejaculava
serpentes venenosas. Mas Prócris possuía uma erva milagrosa que lhe tinha sido
confiada pela mágica Circe, irmã de Pasífae, e com ela conjurou o mal de Minos.
Este, como recompensa, ofereceu-lhe um cão e uma lança infalíveis na caça, dois
dos presentes que a sua mãe Europa tinha recebido de Zeus.
Então Prócris regressou a Atenas, decidida a usar com o seu marido, o mesmo
estratagema que ele utilizara com ela. Em troca dos seus favores oferecia-lhe os
presentes de Minos. Céfalo aceitou e Prócris deu-se, então, a conhecer. E assim,
os dois esposos reconciliaram-se, finalmente.
No entanto, a sua felicidade não iria durar muito tempo. Certo dia, um servo
revelou a Prócris que Céfalo, no fim das suas caçadas, pedia a uma desconhecida
que lhe retemperasse o seu ardor. Atormentada pelo desejo de surpreender o
infiel, Prócris seguiu-o, escondendo-se numa moita. Mas Céfalo, ouvindo um
barulho atrás de si, julgou ter feito sair do covil o animal que perseguia e
atirou a famosa lança, que nunca falhava o seu destino. E, assim, Prócris
encontrou a morte, não sem ter percebido antes que a rival receada não era outra
senão a brisa, a quem o caçador cansado solicitava a aragem.
Uma versão da lenda assegura que Céfalo, desesperado, se atirou ao mar. Uma
outra afirma que o jovem, perseguido por causa do seu assassinato, ainda que
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
involuntário, foi banido de Atenas, refugiando-se numa ilha, que iria tomar o
seu nome: Cefalénia. Mais tarde, Céfalo teria consultado o oráculo
75

Gentauros
de Delfos, que o aconselhou a unir-se à primeira fêmea que encontrasse. Ora a
fêmea em questão foi uma ursa. Céfalo obedeceu, entretanto, ao oráculo e a ursa
transformou-se numa jovem mulher que lhe deu um filho, Arcísio (o avô de
Ulisses).
O rapto de Céfalo por Eos foi representado várias vezes (em pinturas de vasos,
por exemplo). Destacamos, no entanto, a célebre tela do palácio Farnésio, em
Roma, de Annibal Carrache.
Centauros
O Tessaliano lxíon, filho de Ares, o rei dos Lápitas, apaixonou-se por Hera e
procurou levá-la para o seu leito. Mas Zeus enviou-lhe uma nuvem com a aparência
de sua esposa, com a qual lx1on se deitou. Desta união nasceram criaturas
híbridas, cavalos com busto humano, munidos de braços: os centauros.
Os centauros viviam nos bosques dos montes Pélion e Ossa e os seus costumes eram
considerados selvagens. Vêrno-los figurar nos cortejos de Dioniso. A lenda
atribui-lhes numerosos delitos.
Quando Pirítoo, filho de lxíon, se casou, convidou os seus monstruosos parentes
para o banquete. Estes embebedaram-se e tentaram violentara noiva. Este
acontecimento provocou uma luta entre centauros e Lápitas, que se traduziu numa
batalha muito sangrenta. Os Lápitas acabaram por vencer, graças à coragem de
Pirítoo e do seu amigo Teseu, e expulsaram os centauros da Tessália.
Curiosamente, a tradição costuma destacar deste conjunto dois centauros, a quem
atribui uma origem bem diferente e que são recordados pela sua bondade e pela
sua sabedoria: Folo, filho de Sileno, cuja hospitalidade Héracles apreciou, e
sobretudo Quíron, filho de Cronos, benevolente e omnisciente.
A palavra Centauro (que significa: picador de touros) permite, sem dúvida,
discernir a origem do mito: os vaqueiros a cavalo (que recordam os guardiãos de
Camarga) intrigavam verosimilmente os viajantes que percor-
76

Céu
riam a Tessália. E foram estes que criaram a lenda destes seres, misto de homens
e de cavalos,
Os centauros inspiraram muitos pintores e escultores, dos mais antigos a
Miguel-Ângelo (pinturas de vasos, Florença, galeria Buonarotti) e a Bourdelle
(Centauro Moribundo, Paris, museu do Luxemburgo). O poeta Maurlice de Guérin
consagrou ao Centauro um poema em prosa de carácter panteísta (1840).
Céu

ERNEI~11.1.12E1,111
~1,11- ~~
O culto do Céu foi introduzido na Grécia, cerca do séc. xv a. C., pelas invasões
dos Aqueus, que veicularam as mitologias indo-europeias. Este culto veio
confrontar-se com o culto prestado às forças da Terra. As lendas que nos
ilustram esta situação, falam-nos tanto da união como do conflito entre estes
dois parceiros que, na época homérica, são regularmente associados nas fórmulas
de juramento.
As conquistas de Alexandre no séc. iv e as relações que elas criaram com os
deuses do Próximo Oriente - sobretudo com as divindades siderais - darão ao
culto do Céu uma renovação de actualidade.
Mais tarde, os Romanos irão venerar úrano assim como Ceio.
O deus romano úrano é representado como um homem barbudo, com os braços
erguidos, segurando por cima da cabeça um tecido em forma de semicírculo.
Cíbele w,,m, ,

omem;"
O culto da Deusa Mãe é um dos mais antigos cultos da bacia do mar Egeu. Quer se
trate da deusa cretense da fecundidade, quer se trate da Gran-
77

Cíbele
de Mãe, adorada na Frígia, estas divindades irão confundir-se com a deusa grega
Reia, esposa de Cronos, mãe de Zeus e dos grandes deuses do Olimpo.
A Deusa Mãe ou a Mãe dos deuses ou a Grande Mãe é adorada na Ásia Menor com o
nome de Cíbele. O seu culto, celebrado sobretudo em zonas elevadas (monte Ida,
monte Berecinto ... ) tem o seu centro de adoração na cidade sagrada de
Pessinonte. Cíbele é (etimologicamente) a deusa das cavernas, ou seja, da terra;
o seu poder estende-se a toda a natureza.
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
A lenda associa-a ao jovem pastor Átis, que surge quer como seu companheiro quer
como seu amante trágico. É costume associar, igualmente, Cíbele com o rei da
Frígia, Górdias - o inventor do famoso "nó górdio" que Alexandre irá desfazer -
de quem terá tido um filho, Midas, a quem se deve a instituição dos mistérios de
Cíbele na Frigia.
A Grande Deusa foi, na origem, tanto na Grécia como na Ásia Menor, adorada sob a
forma de uma pedra sagrada. Durante a segunda guerra púnica, os Romanos
conseguiram que a "pedra negra" de Pessinonte (um meteorito) fosse transportada
para Roma, a fim de conjurar o perigo cartaginês, construindo, seguidamente, um
templo no Palatino para a abrigar.
Difundido em todo o mundo mediterrâníco, foi em Roma, e sobretudo, durante o
Império, que o culto da Mãe dos deuses se tornou mais florescente: como mãe de
Júpiter, Cíbele partilhou com ele o poder soberano sobre todo o mundo: céu, mar,
terra e subsolo, homens, animais e plantas. Todos os anos, na Primavera,
eram-lhe consagradas uma série de festas que compreendiam ritos de penitência e
de mortificação (flagelação, incisões sangrentas que chegavam à mutilação) e a
reprodução dos episódios da lenda de Átis, a sua morte e ressurreição.
Recordando os Curetes, gênios guerreiros que dançavam em Creta à volta da Mãe
dos deuses, uma confraria de fiéis, os Coribantes, executavam danças sagradas no
decurso das cerimónias.
Fora destas solenidades, o culto de Cíbele e de Átis deu origem a uma iniciação
e a mistérios de carácter oriental: baptismo de purificação pela água e de
regeneração pelo sangue (de um carneiro ou de um touro sacrificado), comunhão do
pão da imortalidade e do vinho consagrado, confirmação por imposição do ferro
vermelho.
O clero, formado na origem por eunucos vindos da Frígia, os "gales",
organízou-se durante o Império num colégio hierarquizado de dois sexos, onde o
próprio imperador ocupava o mais alto cargo.
78

Ciciopes
"A Berecintiana" (é assim que ela é referida por Du Bellay num soneto célebre
das Antiguidades de Roma) é representada como uma mulher coroada, conduzida num
carro puxado por leões ou sentada num trono entre dois leões.
Ciciopes
O nome Ciclopes (olho circular) faz'alusão ao único olho que estes gigantes
"sernelhantes a montanhas" (Calímaco) possuíam no centro da testa. Pensou-se que
eles personificavam os vulcões, que se multiplicavam à volta da Sicília.
Foi, com efeito, nas entranhas dos vulcões, sobretudo do Etna, que os Ciclopes,
conduzidos pelo deus do fogo Hefesto, forjaram o raio de Zeus e as armas dos
deuses.
As lendas confundiram sempre estes monstruosos artesãos com os Hecatonqueiros,
nascidos de úrano e de Geia, cujos sobressaltos no seio da terra fizeram tremer
o mundo. A tradição fala também dos Ciclopes pastores -
Polifemo e os seus companheiros - assim como dos Ciciopes construtores,
responsáveis míticos por todas as construções "ciclópicas" dos tempos
pré-históricos, constituídas por enormes blocos de pedra juntos, sem argamassa.
Os Ciciopes são muito frequentemente representados (sobretudo em vasos) -
especialmente o episódio que representa Ulisses enfrentando Polifemo.
Circe
Circe é filha de Hélio, o Sol. A sua mãe, segundo certos autores, é uma filha de
Oceano, mas segundo outros é Hécate, divindade lunar que preside à magia e aos
encantamentos.
79

Corno da Abundância
Ela é a irmã de Pasítae, esposa de Minos, rei de Creta, e de Eetes, rei da
Cólquida, pai de Medeia. Circe é dotada de extraordinários poderes mágicos, dos
quais fará uso, por exemplo, ao transformar Cila, de quem tinha ciúmes, em
monstro marinho.
A maga residia na ilha de Eeia (que os autores situam diversamente), onde os
Argonautas pararam, no regresso de Cólquida. Foi aí que e@a purificou a sua
sobrinha Medeia do assassinato do seu jovem irmão.
Na ilha de Eeia desembarcaram também Ulisses e os seus companheiros, após a
ruína de Tróia. Circe transformou-os a todos em animais, escapando unicamente
UJisses, graças à ajuda de Hermes: uma planta mágica tornou-o insensível ao
encantamento, mas não à sedução de Circe, com quem partilhará a vida durante
certo tempo. Desta união nascerão uma ou várias crianças, segundo as,diferentes
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
tradições; Telégono, um dos seus filhos, fíxou-se mais tarde na )taca, a pátria
de seu pai, causando involuntaríamente a morte de Ufisses e desposando Penélope.
Atribui-se-lhe a fundação da cidade de Túsculo, em Itália.
Girce viveu ainda outras aventuras. Os Romanos contam que Júpiter a teria
seduzido, e que desta união teria nascido Fauno. Os seus outros filhos
tornaram-se príncipes etruscos e beneficiaram o seu povo, com os poderes mágicos
herdados de sua mãe.
Corno da Abundãncia

ma
Segundo as tradições mais comuns, o chamado corno da abundância é o corno da
cabra que alimentou Zeus, com o seu leite, durante a sua infância,
Uma versão da lenda conta que a nínfa Amalteia, que protegia os recém-nascidos,
recolheu o corno que a cabra tinha partido ao ir de encontro a uma rocha,
cobriu-o de flores e de frutos e ofereceu-o a Zeus, que o colocou mais tarde
entre os astros.
Uma outra versão apresenta Amalteia como a cabra que alimentara Zeus. E fora
este que, tendo partido o corno, o oferecera às ninfas, filhas do rei de Creta,
que o tinham recolhido,
O corno da abundância deu lugar a uma outra lenda, que nos relata o confronto
entre Aqueloo e Héracies.
80

Cronos
Aqueloo apresentou-se com a forma de um touro furioso perante Héracles, a fim de
o obrigar a renunciar a Dejanira. O herói, na tentativa de domar o animal,
acabou por lhe partir um dos seus cornos. E este ter-se~ia tornado o corno da
abundância.
As duas lendas aproximam-se quando se conta que Aqueloo, submetido por Héracles,
pediu a este que lhe restituísse o seu corno em troca do corno da cabra
Amalteia.
O corno da abundância tinha a propriedade de se encher, quando qualquer desejo
era exprimido. Símbolo de riqueza inesgotável, ele aparece sempre nas mãos de
uma divindade da fecundidade.
Cronos
Cronos, o "dos pensamentos pérfidos", é o mais novo dos Titãs, filho de Geia, a
Terra, e de úrano, o céu estrelado. Foi o único a escutar o pedido de sua mãe,
quando Geia, a fim de pôr termo à sua própria escravatura e à dos seus filhos,
decidiu armá-lo para que ele vencesse úrano. Com efeito, este, horrorizado com a
sua descendência, mantinha-a prisioneira nas entranhas de sua mãe, a Terra.
Então Cronos, com um golpe de foice, cortou o órgão sexual de seu pai, afastou-o
do poder e apoderou-se do Universo,
A partir de então, o mundo foi governado pela linhagem dos Titãs que, segundo
Hesíodo, constituía a segunda geração divina. Foi durante o reinado de Cronos
que a humanidade (recém-nascida) viveu a sua idade de ouro.
Cronos casou com a sua irmã Reia, que lhe deu seis filhos (os Crónidas): três
raparigas, Héstia, Deméter e Hera e três rapazes, Hades, Posídon e Zeus.
Ora, para evitar que um dos seus descendentes reproduzisse, em seu proveito, a
aventura que o tornara rei, Cronos tinha prometido aos seus irmãos mais velhos
não ter descendência. Por outro lado, os seus pais tinham-lhe prognosticado,
caso ele tivesse filhos, o mesmo destino que tivera seu pai. Assim, Cronos agiu
com os seus filhos tal como úrano tinha feito no
passado. Mas fez ainda pior, devorou-os à medida que eles iam nascendo.
81

Cronos
Desesperada, Reia procurou uma solução, e por conselho de sua mãe decidiu,
quando estava grávida de Zeus, refugiar-se em Creta, a fim de que a criança aí
nascesse. Assim aconteceu e Geia recolheu o bebé, levando-o para ser educado com
os filhos do rei.
Entretanto, Reia apresentou a Cronos u4ia pedra envolta em panos, que ele
engoliu, sem desconfiar.
A infância de Zeus desenrolou-se entre os carvalhos do monte Ida. E para que
Cronos não escutasse o seu choro, os Curetes, sacerdotes-soldados de Reia,
simulando praticar danças sagradas, faziam retinir os bronzes dos seus escudos.
Quando Zeus cresceu, resolveu vingar-se de seu pai, solicitando para esse efeito
o Apolo de Métis - a Prudência - filha do Titã Oceano. Esta ofereceu a Cronos
uma poção mágica, que o obrigou a restituir os filhos que tinha devorado.
Então Zeus afastou-o do trono, e segundo as palavras de Homero prendeu-o com
correntes, precipitando-o, seguidamente, no mundo subterrâneo, onde Cronos foi
Página 34

DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
encontrado, após dez anos de luta encarniçada, pelos seus irmãos, os Titãs, que
tinham pensado poder reconquistar o poder a Zeus e aos seus partidários.
Segundo outras tradições, Cronos teria sido, simplesmente, adormecido e levado
para a ilha misteriosa de Tule ou teria sido exilado como rei para um sítio
ideal onde o "solo fértil produzia colheitas três vezes por ano" e onde se teria
prolongado esta idade de ouro, definitivamente terminada com o aparecimento da
terceira geração, a de Zeus e dos Olímpicos.
Quanto à famosa pedra, instrumento de liberdade e de vitória, repelida mais
tarde por Cronos, mereceu a atenção de Zeus, que a transportou para o futuro
lugar de Delfos, a fim de aí ser venerada ao longo dos séculos.
Cronos foi, por vezes, assimilado ao deus fenício Baal, a cujo ídolo eram
sacrificadas as vítimas humanas.
A lenda de Cronos figura no tecto da Sala dos Elementos no Palácio Vecchio
(Florença), pintado por Vasari. Goya representou Cronos devorando os seus filhos
(Madrid, Prado).
82
Curetes
Curetes

owWoo-mm-os> wemev:-m,'
Os Curetes são gênios, com uma origem obscura, que se encontram em diversos
países do mundo mediterrânico.
Aparecem em Creta como serventuários do culto de Reia, no momento do nascimento
de Zeus, e são eles que se encarregam, com o barulho da sua dança guerreira, a
pírrica (por vezes eles são apresentados como filhos de Cálcis (em grego:
chalcos), inventora das armas de bronze, filha do rei Asopo) de cobrir o choro
do bebé, impedindo assim Cronos de descobrir a sua presença.
Vamos reencontrá-los também na Fócida, quando do nascimento de Zagreu.
Participaram na educação do filho de Zeus, sem conseguir, no entanto, subtraí-lo
à crueldade dos Títãs.
Os Curetes, cumprindo a ordem de Hera, raptaram e esconderam na Síria o filho
que Zeus tinha dado a lo, Épafo. O rei dos deuses, pouco reconhecído pelos
serviços que os Curetes lhe tinham prestado na sua infância, fulminou-os.
Existe, igualmente, um povo mítico com o nome de Curetel, que foi afastado da
sua pátria pelo invasor Etolo, rei da Élide e filho de Endímion. O país tomou a
partir de então o nome de Etólia.
1 Cf. também Meleagro.
83
MDãnae

Dánae era a filha única de Acrísio, rei de Argos, e da sua esposa, Eurídice,
filha do rei de Esparta, Lacedémon.
Acrísio, inquieto por se encontrar sem descendência masculina, consultou o
oráculo. Este informou-o que ele viria a ser avô, mas pereceria às mãos do seu
neto. Então, o rei mandou fazer uma torre de bronze para encarcerar a sua filha
Dánae juntamente com a sua ama, afastando-a assim de qualquer contacto com o
mundo exterior.
Acontece que Zeus se deixara seduzir pela beleza de Dánae. Assim, quando teve
conhecimento da sua prisão, resolveu penetrar no cárcere, transformando-se em
chuva de ouro, e uma vez junto da jovem tomou a sua forma e seduziu-a. Desta
união encantada nasceu um filho, a quem Dánae deu o nome de Perseu. Este veio a
ser um dos mais célebres heróis da mitologia grega.
Durante alguns anos, Dáriae e a sua ama conseguiram manter o rei na ignorância
do que se passara, mas um dia ele escutou as brincadeiras da criança.
Enfurecido, mandou executar a serva e arrastou Dánae para o altar de Zeus,
exigindo saber o nome do sedutor. Então, Dánae revelou a verdade, mas Acrísio
recusou-se a acreditar, encarcerando a culpada com o seu filho numa arca, que
mandou atirar ao mar.
A arca, protegida por Zeus, foi levada pelas ondas para uma ilha das Cíclades,
Serifo. Díctis, irmão do tirano Polidectes, que reinava na ilha e que, por azar,
descendia como Dánae de Dáriao, prendeu a arca com as suas redes, quando
pescava, e salvou os naúfragos. Depois recolheu-os em sua casa, onde decorreu a
infância e a adolescência de Perseu.
Acontece que Polidectes se apaixonou violentamente por Dánae e, ao mesmo tempo,
ganhou uma aversão sem limites a Perseu, que aumentava à
85
Dánae
Página 35

DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
medida que este crescia. Quando Perseu se tornou um atleta robusto, Polidectes
tornou-se servo de uma ideia fixa: a de se desembaraçar da presença do jovem e,
se possível, da sua vida. Então, simulou querer desposar a filha do rei da
Élide, Hipodâmia, e pediu a Perseu que lhe procurasse uma cabeça de Górgona, a
fim de a oferecer como presente de núpcias. Dánae seria refém do tirano até que
Perseu tivesse cumprido a sua missão.
O herói partiu, então, em expedição e quando regressou, com a cabeça de Górgona
e acompanhado de uma esposa, encontrou a sua mãe refugiada no templo de Atena, a
fim de escapar às instâncias e às ameaças de Polidectes. Perseu mostrou então ao
tirano a cabeça de Górgona e este ficou, instantaneamente, petrificado.
O trono de Sérifo passou então para as mãos de Díctis, que tinha demonstrado
para com Dánae uma benevolência desinteressada.
Perseu, por seu lado, regressou a Argos, na companhia da sua esposa e de sua
mãe. Acrísio, que não tinha esquecido a profecia, deixou prudentemente a cidade,
quando foi informado da sua chegada.
Mas podia ele escapar ao destino? Um dia, quando Perseu lançava o disco no
decurso de uns jogos, aos quais assistia Acrísio, este foi atingido por um
lançamento, involuntariamente mortal, do seu neto.
A lenda de Dáriae foi, desde a Antiguidade, uma das lendas mais populares da
mitologia. Ela exprime, através da imagem da chuva de ouro penetrando no cárcere
e dando um filho a Dáriae, uma das funções essenciais de Zeus, deus do céu, por
vezes assimilado ao Sol, que fecunda os grãos nas profundezas do solo. (Dá-se
também, por vezes, ao símbolo da chuva de ouro uma tradução mais grosseira: o
ouro permite penetrar em todo o lado.)
Dánae, a sua beleza e a sua aventura insólita inspiraram um grande número de
pintores: Le Corrège (Roma, galeria Borghèse), Ticiano (museus de Nápoles,
Madrid, Leninegrado), Tintoreto (Lião), Le Primatice (Fontainebleau, galeria
Francisco 1), Rembrandt (Leninegrado), Van Dyck (Dresden), Boucher (Angers)... O
amor de Dánae é uma obra do compositor Richard Strauss (1940).
86

Danaides
Danaides
Dáriao e Egipto eram irmãos gêmeos, filhos de Belo e netos da ninfa Líbia e de
Posídon. Toda esta família descendia, por um lado, de Zeus e de lo e, por outro,
do rio Nilo.
Dánao reinou na Líbia e Egipto no Egipto. O primeiro teve cinquenta filhas (as
Danaides), de diferentes uniões e o segundo teve cinquenta filhos.
Ora o oráculo tinha aconselhado Dánaoa desconfiar dos seus sobrinhos e, assim,
este decidiu abandonar África e embarcar com as suas filhas com destino à
Argólida, onde o povo o aclamou como rei. Foi ele que construiu a cidadela de
Argos, dando depois o seu nome a toda a raça grega (Timeo Danaos... lê-se em
Virgílio: Eu receío os Gregos).
Mas Posídon, que teria desejado possuir o país, desde que ele tinha sido
consagrado a Hera, resolveu privá-lo de água. Entretanto, Dánao enviou as suas
filhas à procura de uma fonte, e uma delas, Amimone, foi surpreendida por um
sátiro que tentou violá-la. A jovem pediu ajuda a Posídon e este manifestou-se,
afastando o sátiro com um golpe de tridente. Curiosamente, o tridente bateu numa
rocha e dela brotou uma nascente. Amimone transportou então a água preciosa e um
filho, a quem chamou Náuplio (fundador da cidade de Náuplia, antepassado de
Díctis e de Polidectes, protagonistas da lenda de Dáriae e Perseu), para junto
de seu pai.
Um dia, Dáriao viu chegar a Argos os seus cinquenta sobrinhos, desejosos de
reconciliar-se com a sua família e propondo-lhe desposar as cinquenta primas.
Dáriao, que não tinha esquecido o aviso do oráculo, fingiu ficar satisfeito com
a proposta. Entretanto, como presente de casamento ofereceu a cada uma das suas
filhas um punhal, obrigando-as a prometer que, na noite de núpcias, matariam com
ele os seus maridos. Todas elas cumpriram o prometido, com excepção de
Hiperrnnestra, cujo marido, Linceu, não lhe tinha aparecido durante a noite.
Zeus interveio pessoalmente, a fim de que as assassinas, suas descendentes,
fossem purificadas por intermédio de Hermes e de Atena. As jovens puderam então
sonhar com um casamento mais duradouro do que aquele. Acontece que nenhum
pretendente apareceu, apesar de estarem dispensados de trazer os presentes
habituais. Então, Dánao organizou jogos em que as
87
Danaides
lo
+
Zeus
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
Libia
+

Posídon
Belo

ipto
nao

Egi
50 Da
naides
50 F
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(entre
1elas)

(entre
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Hipermnestra
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1 Abas
Damastor
11Acrísio
r e, i sten o
11Dáriae
1
1 ctis
Polídec
tes
Perseu

Delfos
filhas seriam o prêmio. Os jovens da Argólida apresentaram-se e os vencedores
dividiram entre si as Danaides.
Quanto a Linceu, não perdoou o massacre dos seus irmãos, e quando regressou
matou o rei e todas as suas cunhadas.
Estas foram então conduzidas para os Infernos e submetidas a uma prova pela
eternidade. As Danaides eram obrigadas a tirar água de um poço e a deitá-la num
túnel, sem fundo.
Deifos
Apolo, pouco depois do seu nascimento na ilha de Delos, resolveu percorrer a
Grécia, armado por Hefesto, a fim de escolher um lugar para estabelecer o seu
santuário. Foi assim que ele elegeu um sítio na Fócida, no flanco do Parnaso, um
dos lugares mais impressionantes do país, quer pela sua majestade quer pelo seu
mistério, rodeado por altas montanhas (em três dos lados) e dando para um vale
verdejante e para o mar.
Este lugar era reconhecido como o centro do Universo, o ponto onde se
reencontravam duas águias, largadas por Zeus ao mesmo tempo, uma vinda de este e
outra de oeste.
Ali se tinha manifestado outrora o mais antigo oráculo do mundo, comum à Terra e
a Posídon. Depois, foi abandonado, muito embora continuasse a beneficiar da
protecção de uma serpente. Como a luz triunfa sempre sobre as trevas, Apolo
matou o monstro e deixou-o apodrecer ao sol (o verbo apodrecer, em grego,
diz-se: pytho). Depois, apropriou-se do oráculo, dando-lhe o nome de Pito. Em
homenagem à serpente Píton, sua vítima, Apolo instituiu os jogos píticos. A
sacerdotisa encarregada de proferir o oráculo do deus, colocada sobre um tripé
suspenso, charnar-se-á Pítia.
Certo dia, Apolo decidiu reclamar os ocupantes de um navio cretense, a fim de os
tornar sacerdotes do seu culto. Para isso, precipitou-se ao seu encontro na
forma de um golfinho (em grego: delphis) e foi assim que o sítio de Pito mudou o
seu nome para Delfos (uma outra explicação faz remontar a
etimologia à palavra delphys, que significa matriz).
A tradição atribui a Anfiction, filho de Deucalião e de Pirra, a fundação da
confederação (ou anfictionia) que tomou conta do santuário. Esta confedera-
89
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DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
Delfos
ção era constituída pelas gentes que habitavam à volta de Deitos (é o sentido da
palavra anfictionia), cujos representantes administravam o centro religioso,
geriam o tesouro, organizavam as cerimônias, as festas artísticas e os jogos
desportivos. Delfos possuía um teatro e um estádio, para este efeito.
o santuário de Delfos, aberto a todos, tornou-se o lugar mais frequentado de
todos os povos da Antiguidade, quer helenos quer bárbaros. No decurso dos
séculos, acumularam-se ex-votos sumptuosos, troféus, estátuas e capelas de
mármore de uma e de outra parte da via sagrada que conduzia, de terraço em
terraço, ao monumental templo de Apolo.
Este, decorado com cores vivas, destacava-se sobre as falésias banhadas de sol,
a que os Gregos chamavam Féciriadas (resplandecentes). O templo compreendia uma
sala de atendimento, para aqueles que iam consultar o oráculo, a sala secreta
onde estava a Pítia e o santuário propriamente dito. Este último apresentava,
aos fiéis, as máximas de sabedoria: "Conhece-te a ti próprio" e "Nada em
demasia". O santuário abrigava, para além da estátua do deus, uma pedra cónica
que passava por ser o umbigo do Universo (omphalos). Uma outra pedra que se
venerava em Delfos era aquela que Reia tinha apresentado a Cronos, em
substituição de Zeus e que este, mais tarde,
O santuário de Deifos
90

Delos
tinha transportado para aqui, uma vez que seu pai a tinha rejeitado, a fim de a
expor ao reconhecimento público.
O oráculo de Delfos exerceu uma influência considerável sobre o mundo antigo,
intervindo quer nos assuntos internos das cidades quer nos conflitos entre
Estados. Partidário de um conservadorismo aristocrático, o oráculo opôs-se
constantemente às democracias assim como às tiranias, não esquecendo nunca, no
entanto, de se colocar do lado que lhe parecia mais forte.
O último oráculo de Delfos foi pronunciado a pedido do imperador romano Juliano.
Ainda hoje conhecemos as suas,palavras:
A rica morada caiu e Febo já não tem pátria, nem loureiro profético, nem fonte
cantante, pois a água deixou de falar
Delos
A ninfa Astéria, filha dos Titãs Céu e Febe, era perseguida por Zeus. Para lhe
escapar, metamorfoseou-se numa ilha flutuante, a Ortígia (do grego ortyx:
codorniz).
Foi nesta ilha que Leto, irmã de Astéria, encontrou refúgio, a fim de dar à luz
os gêmeos, gerados por Zeus: Apolo e Ártemis. A ilha de Ortígia foi então fixada
à terra, por quatro colunas, e mudou de nome, passando a chamar-se Delos (A
Aparente).
O nascimento sagrado teve lugar no topo de uma montanha da ilha, sob a protecção
de uma palmeira. Mal nasceu, Apolo resolveu construir um altar à sua própria
divindade. Para esse efeito, matou um certo número de cabras e com os seus
cornos, empilhados, fabricou um altar, antepassado do santuário que conheceu um
êxito excepcional, em todo o mundo mediterrânico. ~",- MIM,
Este êxito é devido quer à lenda de Apolo quer à situação privilegiada da ilha
no centro do arquipélago das Cíciades e de todo o mar Egeu. Delos foi, ao mesmo
tempo, um santuário e um mercado.
O oráculo de Apolo e as festas dadas em honra do deus (competições
91

Deméter
musicais e poéticas assim como gímnicas) traziam fiéis de todo o lado. Como em
Delfos, a administração do santuário e das festas foi dada a uma anfictionia
(associação de Estados). De início, esta administração agrupava somente os
jónios insulares, mas mais tarde aceitou também a participação de Atenas. E foi
assim que, no séc. v, a Confederação Ateniense estabeleceu a sua sede em Delos.
Deméter

Eu
Deméter, a Terra-Mãe, é a mais importante das divindades gregas da fecundidade.
Ela incarna a terra cultivada, mais particularmente, a cultura do trigo.
Filha de Cronos e de Reia, Deméter é a irmã loura de Héstia (a mais velha),
assim como de Hades, Posídon e Zeus.
Acontece que Posídon se apaixonou por sua irmã e Deméter, a fim de lhe escapar,
metamorfoseou-se numa égua e misturou-se aos cavalos do rei da Arcádia. Mas o
seu irmão tomou a forma de um cavalo e conquistou-a, tornando-a mãe do cavalo
Aríon - dotado da palavra - e de uma filha que é nomeada na mitologia com o
Página 38

DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA
vocábulo "A Senhora".
Entretanto, também Zeus cobiçou Deméter. Ela tentou resistir-lhe, mas o rei dos
deuses, sob a forma de um touro, violou-a e a deusa deu à luz uma filha, chamada
Core (que significa: a jovem), que foi a sua alegria e o seu orgulho.
Infelizmente, o terceiro dos irmãos, Hades, até então recusado por todas as
deusas, apaixonou-se pela sua sobrinha e raptou-a.
A busca de Deméter Desde este dia, Deméter, obcecada pelo grito patético de sua
filha, consagrou todo o seu tempo e todas as suas forças à procura da sua
bem-amada (o único sossego que ela concedeu a si própria, foi-lhe proporcionado
pela semente da dormideira, nascida no meio do trigo). Durante nove dias e nove
noites, ela percorreu o mundo, com um archote em cada mão. A deusa Hécate, que
escutara os clamores de Core, não pôde indicar-lhe a pista. Mas Hélio, em
compensação, identificou o autor do rapto. Abatida pela revelação, Deméter
renunciou às suas prerrogativas divinas, decidindo ficar na terra até que a sua
filha lhe fosse devolvida.
92

Deméter
Foi assim que, sob a aparência de uma velha, a deusa se refugiou em Elêusis,
próximo de Atenas. Aí, ela colocou-se ao serviço da rainha que a contratou como
ama de um dos seus filhos: Demofonte (não confundir com o filho de Teseu) ou,
segundo a versão mais corrente, Triptólemo.
Entretanto, Deméter desinteressou-se completamente das culturas que até aí
protegia. Assim, a terra transformou-se num deserto e a fome ameaçou os homens e
os animais. Zeus, inquieto, e temendo ver a ordem do mundo subvertida, ordenou a
seu irmão que renunciasse a Core. Mas esta, que tinha tomado o nome de
Perséfone, não podia esçapar aos Infernos, a não ser que, durante a sua estadia,
se tivesse abstido de todo o alimento. Ora acontece que a jovem tinha trincado
um grão de romã (símbolo de casamento), encontrando-se assim ligada ao seu
esposo infernal.
Deste modo, o seu pai arranjou um compromisso: se Deméter aceitasse voltar para
junto dos deuses, Perséfone poderia dividir o seu tempo entre a sua mãe e o seu
marido.
Atribuições de Deméter Segundo o acordo preconizado por Zeus, Perséfone passaria
seis meses do ano com Deméter, no Olimpo, e outros seis meses na companhia de
Hades, nos Infernos. Durante a estação tórrida, Deméter deixava os seus campos
desnudarem-se, mas durante os seis meses seguintes favorecia a eciosão da
vegetação.
Antes de deixar a terra, a deusa confiou a Triptólemo - que ela não conseguiu
tornar imortal - a missão de difundir, por toda a terra, a cultura do trigo.
A Sicília e a Campânia, dois dos celeiros de trigo da Antiguidade, conservaram a
lembrança dos combates travados por Deméter pela posse do seu solo: o primeiro,
em detrimento de Hefesto, o segundo de Dioniso.
Adorada em muitas regiões do mundo grego, que se gabavam de ter acolhido a deusa
quando da sua busca, Deméter tinha os seus principais centros de culto na Ática.
Aí celebravam-se, em sua honra, cerimônias importantes. Durante o mês de
Outubro, época das sementeiras e das festas de acções de graças, acessíveis a
todos, aconteciam as Tesmofóricas (Deméter era chamada Tesmófora, a legisladora,
no seu papel de reconhecida fundadora da civilização, sobretudo da instituição
do casamento). Em Elêusis festejavam-se as Eleusínias, grandes solenidades que
marcavam, em Setembro, o
93

Demofonte
princípio da subida de Perséfone. Estas eram reservadas aos iniciados nos
mistérios, que se preocupavam não somente com os benefícios concernantes à vida
terrena, mas sobretudo com a felicidade das almas no além.
A divindade itálica Ceres, originária da Campânia, foi assimilada, pelos
Romanos, a Deméter, que desde então se tornou numa divindade de primeiro plano.
Dernéter é representada pela estatuária grega como uma mulher de beleza severa,
olhar longínquo, coroada de espigas ou com uma corbelha (simbolizando a
fecundidade).
Demofonte uw

_waswi~on-w-ma
Dernofonte é filho de Teseu e de Fedra e irmão de Ácamas. A lenda confunde,
frequentemente, as aventuras dos dois irmãos, em particular aquelas que tratam
da guerra de Tróia e do regresso após a vitória.
Os Atenienses eram-lhe singularmente reconhecidos portertrazido, para Atenas, o
famoso Paládio, a estátua de Palas-Atena que protegia Tróia. Uns contam que ele
Página 39
Dicionário de Mitologia Grega e Romana
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